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O Brasil dos extremos: velhos e jovens abandonados.


11/09/2009

Sempre me preocupa, como sindicalista, cidadão e brasileiro as condições dos jovens e dos idosos. A gente está acostumado à labuta diária. E sabe que só tem valor para os patrões enquanto tem saúde e disposição. Por isso, sempre que posso, nos nossos debates sindicais e na União Geral dos Trabalhadores, seja na plenária nacional ou na estadual, coloco em pauta o que fazer para ajudar os jovens a terem acesso, com dignidade ao mercado de trabalho. E, ao mesmo tempo, tento descobrir, com a ajuda dos meus companheiros e companheiras, o que poderíamos fazer para proteger os idosos.

A resposta você sabe, mesmo antes de chegar ao final deste artigo: sofrem os jovens e sofrem os idosos com o abandono do Estado e da sociedade. E a única chance que têm é se nós, sindicalistas, cidadãos e brasileiros, começarmos a nos mobilizar para que o Estado e a sociedade cuidem tanto dos meninos e meninas como dos seus avôs e avós.

Dados publicados pela ONG Children's World, no documento A infância em números" se tornam um verdadeiro pesadelo para nós, cidadãos mais sensíveis e preocupados com o futuro de nosso País: 41% das crianças de 6 a 24 meses são desnutridas e uma em cada 16 morre antes de completar 5 anos de idade, muitas vezes por causa de doenças que poderiam ser prevenidas.

As explicações são a pobreza, o abandono social, a falta de apoio do Estado e a completa ausência de políticas públicas a favor destes nossos meninos e meninas, sumariamente massacrados diante da indiferença de nossa sociedade.

Mas a pobreza se torna um agravante das condições em que vivem nossos jovens. Porque segundo o estudo, ser filho de mãe com menos de um ano de estudo aumenta em sete vezes a chance de ser pobre, ou seja, de viver com renda per capita mensal de até R$ 120
e morar no campo aumenta em duas vezes a possibilidade de ser pobre.

Caçados até a velhice

Os que não são pegos na juventude são caçados até a velhice. E punidos depois de anos de dedicação ao país e às próprias famílias.

Segundo o estudo "Saúde e Condições de Vida do Idoso no Brasil", da Universidade Aberta da Terceira Idade, o Brasil possui atualmente cerca de 13 milhões de idosos, que correspondem a 8,3% do total da população. Apesar disso, ainda é escasso o conhecimento sobre suas características e das demandas de saúde decorrentes do seu perfil epidemiológico.

Mas o pouco caso que se faz dos idosos não consegue tampar a dura realidade a que são submetidos. No Brasil, como pode ser constatado, a pobreza é uma característica da velhice. Os dados da PNSN (Pesquisa Nacional sobre Saúde e Nutrição) mostraram que os idosos eram mais pobres quando comparados aos adultos de 40 a 59 anos de idade e, entre si, os idosos "mais idosos" eram mais pobres do que "os idosos mais jovens".

Ou seja, envelhecer no Brasil, nestas condições, em vez de se fazer jus aos benefícios sociais que deveriam ser reconhecidos com a idade, se transforma em punição com a pobreza sempre crescente. Fruto, claro, do abandono social desde a juventude e da indiferença permanente da sociedade e do Estado.

Que se reflete no analfabetismo, pois estes idosos e idosas passaram a vida toda preocupados tão e somente com a sobrevivência, sem terem tempo e apoio para aprender a ler e escrever. No Nordeste, aproximadamente 65 em cada 100 idosos não sabiam ler ou escrever, enquanto que, na região Sudeste, embora ainda elevado, o percentual era de cerca de 30%. O nível de escolaridade, tendo como referência o total de séries concluídas, também foi baixo: mais de 80% dos idosos tinha cursado, no máximo, até a quarta série, o que correspondia, à época, ao primário completo. No Nordeste, de cada dez idosos, sete nunca concluíram sequer um ano de estudo.

Abandonados, nossos idosos sofrem de problemas de audição e de déficit visual. Na faixa de 70 a 79 anos, cerca de 17% referiram cegueira ou surdez parcial, e na população de 80 anos ou mais este percentual foi maior que 21%. Esses percentuais, aplicados ao total de idosos no Brasil de hoje, indicam que no mínimo cerca de 2 milhões de indivíduos com 60 anos ou mais estariam necessitando de avaliação oftalmológica ou otorrinológica.

Ou seja, somos uma sociedade que pune o jovem, que é nosso futuro. E caso os jovens escapem das altas taxas de mortalidade, de uma bala perdida, de um acidente grave na fábrica ou no trânsito, nossa sociedade ajusta as contas com o idoso que sobreviveu a tudo isso. Deixando-o no abandono total, sem apoio social de qualquer ordem.

É por isso que venho até você. Como sindicalista, presidente da União Geral dos Trabalhadores da Bahia, como cidadão e como brasileiro sei que temos que vencer de alguma maneira essa indiferença social.

E sei também que a responsabilidade pela ação não é apenas sua e minha. Mas dos homens e mulheres que colocamos à frente da máquina pública. Temos que exigir deles e delas (e isso é nossa responsabilidade) que se adotem com urgência políticas públicas a favor dos jovens e dos idosos.

Para evitar sermos um Brasil que sistematicamente abandona seus jovens e seus idosos. Para nossa vergonha e constrangimento.

Álvaro Rios, é presidente da UGT-BA"


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