19/08/2009
Por Gustavo Walfrido*
A crise que chegou feiosa há um ano começa a sair do cenário e a nos deixar lições valiosas que enquanto trabalhadores e consumidores devemos aprender para colocar em prática.
Uma das constatações de governos (daqui e do exterior), de universidades, até de economistas, técnicos e de institutos de pesquisa foi que o mercado interno, sustentado pelo consumo de trabalhadores e consumidores de baixa renda, ajudou a criar uma rede protetora para nossa economia. Diminuindo, bastante, o impacto que de outra maneira a crise teria na agricultura, na venda de eletrodomésticos, de automóveis e até de material de construção.
Mas somos trabalhadores e aprendemos ao longo das décadas de organização em torno dos nossos sindicatos e centrais sindicais que se temos alguma importância econômica estratégica, temos que fazer valer nossa contribuição. Pois sem isso, os grandes capitães da indústria, os banqueiros de sempre vão daqui a pouco capitalizar para eles o crédito de superação de uma verdadeira bagunça econômica mundial que foram eles (e não nós) os gestores.
Veja o que foi publicado recentemente no jornal O Estado de Minas": "Trabalhadores que pela primeira vez tiveram a carteira assinada ou viram o salário crescer. Comunidades que receberam energia ou ainda serão ligadas ao sistema elétrico brasileiro. Gente que pela primeira vez tem acesso a crédito e juros baixos para comprar o primeiro eletrodoméstico, o primeiro carro zero. Novos grupos de consumidores, como esses, são a aposta para sustentar o crescimento econômico do país. Homens e mulheres enquadrados nas estatísticas das classes C, D e E, que consomem integralmente seus ganhos. São 31 milhões de lares, nada menos que 72 de cada 100 domicílios urbanos. Juntos, têm capacidade estimada de compra de R$ 575 bilhões ao ano, o equivalente a 87% da população com renda mensal familiar até R$ 3,5 mil. É muito mais do que dispõem a classe A (R$ 212,8 bilhões) e a classe B (R$ 301,5 bilhões), segundo levantamento da Agência Consumidor Popular."
Ou seja, a bola da vez agora está com a gente. Mas tem empresário trabalhando dia e noite contra o Brasil. Apostando no arrocho da massa salarial através da demissão de trabalhadores com salários negociados pelos sindicatos e os substituindo por profissionais com salários mais baixos, em média 12,3% mais baixos.
São empresários que só pensam na mesquinharia do lucro pequeno e imediato. São mal agradecidos pois quem os ajudou a manter a empresa aberta ao longo da crise foi o consumo dos trabalhadores e dos consumidores populares.
Mas somos trabalhadores organizados. Temos na nossa linha de frente a União Geral dos Trabalhadores (UGT) e junto com as demais centrais vamos pressionar o Congresso Nacional e o Governo brasileiro para adotarem, ainda este ano, duas pautas: a) assinar a Convenção 158 da Organização Internacional do Trabalho (OIT) e b) reduzir a jornada para 40 horas semanais, sem redução dos salários.
Com a assinatura da Convenção 158 vamos gerenciar a demissão imotivada e acabar com essa irresponsabilidade patronal de apostar na rotatividade para prejudicar a massa salarial do país e nosso poder de consumo. Com a redução da jornada para 40 horas vamos criar mais de dois milhões de novos empregos.
Já que os empresários falham feio e só pensam no próprio umbigo é a hora da classe trabalhadora brasileira, mais uma vez, liderar as mudanças a favor do futuro. Com mais renda, mais consumo, mais crescimento de nossa economia.
Aprender as lições da crise e assumir a responsabilidade, já que grande parte dos empresários e banqueiros não estão nem aí para o Brasil, de construir um Brasil mais justo e com uma melhor distribuição de renda e de oportunidades para todos.
*Gustavo Walfrido é presidente da UGT-PE"
UGT - União Geral dos Trabalhadores