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A R T I G O - Magno Lavigne


26/07/2009

ANEMIA FALCIFORME: Um alerta ao Movimento Sindical..

É muito comum no movimento sindical a nossa preocupação apenas com os problemas econômicos dos trabalhadores, em nossos acordos coletivos de trabalho, com algumas honrosas e raras exceções, as questões relativas a saúde do trabalhador são relegadas a discussão sobre planos de saúde e nos sindicatos como assuntos apenas das enfermarias ou do atendimento ambulatorial.

Entendo que o movimento sindical poderia jogar um papel fundamental no combate e na identificação de algumas doenças principalmente aquelas que afligem parcelas significativas dos trabalhadores, e no caso da doença em voga, os trabalhadores mais pobres, os trabalhadores do subemprego e os trabalhadores desempregados, ou seja, justamente aqueles que não tem acesso aos planos de saúde, aos ambulatórios dos sindicatos e ficam a mercê apenas dos precários serviços do atendimento publico.

Estou falando dos portadores de anemia falciforme, poderia estar falando de outras doenças, no entanto os portadores desta moléstia ainda carregam os pré-conceitos por serem na sua maioria negros.

Anemia Falciforme:

Doença ainda pouco conhecida no Brasil, a Anemia Falciforme é hereditária, mais freqüente na população negra e comum no mundo inteiro. Trata-se de uma anemia causada por uma alteração na forma dos glóbulos vermelhos do sangue da pessoa: ao invés de redondos, uma parte dos glóbulos vermelhos fica com forma de uma foice. Devido a este formato, estes glóbulos têm dificuldade para passar pelos vasos sanguíneos, causando crises de dores.

Uma pessoa só terá Anemia Falciforme se herdar esse problema do pai e da mãe. Se herdar apenas do pai ou apenas da mãe, ela não terá a doença, mas será portadora do Traço Falciforme, ou seja, embora não fique doente, ela poderá transmitir esta herança para seus filhos.

Cinco situações possíveis de se herdar a Anemia Falciforme:

Mãe com traço. Pai não tem traço e nem anemia: Neste caso, em cada gestação a criança terá 50% de chance de não herdar o Traço e nem a Anemia e 50% de chance de ter o Traço e não ter a Anemia.

Mãe sem traço e sem anemia. Pai com anemia: Aqui, em cada gestação a criança terá 100% de chance de ter o traço e não ter a anemia.

Mãe com anemia. Pai com traço e sem anemia: Nesta situação, em cada gestação a criança terá 50% de chance de ter o traço e não ter a anemia e 50% de chance de de ter a anemia.

Mãe com traço e sem anemia. Pai com traço e sem anemia: Neste caso, em cada gestação a criança terá 25% de chance de não ter o traço e nem a anemia, 50% de chance de ter o traço e não ter a anemia e 25% de chance de ter a anemia.

Mãe com anemia. Pai com anemia: Apenas nesta situação, em cada gestação a criança tem 100% de chance de ter Anemia Falciforme.

O Mapa das Origens:

Existem muitas anemias hereditárias, assim como muitas explicações sobre suas origens. As anemias hereditárias acometem vários grupos étnicos, apresentando em cada grupo características específicas. Entre essas características podemos mencionar a Talassemia ou Anemia do Mediterrâneo, muito freqüente entre os italianos.

A Anemia Falciforme é originária da África e se espalhou pelas américas com o tráfico dos escravos. Uma das explicações sobre sua origem na África é que o Traço Falciforme surgiu a partir de mutação genética como forma de proteção do organismo à malária.

Há vários tipos de Anemia Falciforme com diferentes níveis de gravidade e que são denominados de acordo com a sua região de origem. A Senegal não é grave, a Benin é grave e a Banto, a mais freqüente no Brasil, é considerada a mais grave.

O mapa Nacional -quesito raça:

O censo de 1991 mostrou que 45% da população brasileira é negra, ou seja, se declaram negros ou pardos. Porém, sabemos que a população negra no Brasil é maior do que isso: por causa da discriminação e do preconceito que existem em nossa sociedade, infelizmente muitas pessoas negras se declaram brancas nos recenseamentos.

Além disso, já que o Sistema Público de Saúde como um todo ainda não incluiu o quesito cor em seus prontuários, existe muita dificuldade para conhecer a incidência da doença entre a população negra e branca. Por isso, apesar de sabermos que a Anemia Falciforme é a doença hereditária mais comum no Brasil, é difícil estimar sua frequência, assim como a do Traço Falcêmico, entre a população negra.

Segundo especialistas, na população negra brasileira, a frequência de portadores do Traço é de 6 a 10%, ou seja, em 1991, variava de 3.964.287 a 6.607.146 o número de pessoas portadoras.

Embora a Anemia Falciforme seja uma doença determinada geneticamente, sua evolução depende das condições sócio -econômicas e da qualidade de vida dos indivíduos.

Além das dificuldades decorrentes da doença, os pacientes falcêmicos sofrem devido aos estereótipos que atingem os negros. Daí o importante papel a ser desempenhado pelos profissionais de saúde, conhecedores das possíveis limitações físicas e dificuldades emocionais dos seus pacientes, para evitar, entre outros problemas, seu auto-isolamento.

O fato de o falcêmico poder ter dificuldades de participação continuada no trabalho leva-o a representar um peso para seus familiares. Daí a necessidade de solidariedade no trabalho e na família.

Como toda pessoa, um doente falcêmico tem o direito de atenção integral ao seu problema de saúde: tratamento médico e serviços de apoio psicológico e social que levem em conta a doença em seu conjunto.

É importante saber as normas de atendimento e aconselhamento médico:

1- Toda pessoa tem o direito de realizar o exame

2- Toda pessoa tem o direito de conhecer os resultados dos exames feitos para o diagnóstico da Anemia Falciforme

3- Nenhum exame para o diagnóstico poderá ser feito sem o consentimento da pessoa ou de seu responsável

4- Durante o pré-natal o profissional de saúde deve informar os pais sobre a possibilidade de terem filhos portadores do Traço ou da Anemia Falciforme

5- O aconselhamento deve ser visto como uma forma de ajuda às pessoas e nunca como meio de coação

6- A decisão de engravidar e de levar adiante a gravidez é exclusiva da mãe, do pai ou de ambos.

Anemia Falciforme e a circulação sanguínea:

Os glóbulos vermelhos, quando em forma de foice, têm dificuldade de circular pela corrente sanguínea, pois este formato possibilita que eles aglomerem nos pequenos vasos. Esta aglomeração, causada pela falcização dos glóbulos vermelhos leva à obstrução vascular e infartos dolorosos, ocasionando crises de dor.

A Anemia ocorre devido à destruição precoce dos glóbulos vermelhos em forma de foice, que em consequência da anemia, aumenta o trabalho do coração. Isto se torna particularmente grave quando o anêmico começa a se exercitar. Um aumento de esforço na atividade física pode provocar insuficiência cardíaca.

O baço, entre outras funções, toma parte no mecanismo de defesa do corpo, filtrando e retirando as células velhas do sangue. Na primeira infância a criança falcêmica é muito suscetível à infecções. O baço é precocemente acometido nestes pacientes, o que favorece as complicações infecciosas.

Sinais, sintomas e complicações gerais:

Um sinal bastante importante é a alta frequência de infecções e febre. Geralmente ocorrem dores de cabeça, dores no peito e nas articulações. Na infância, o baço pode ficar inchado, de tal forma que preencha totalmente a cavidade abdominal, onde o sangue fica preso. Problemas oculares também podem ocorrer.

A Anemia Falciforme pode, também, causar complicações cardíacas, renais, ósseas, úlceras nas pernas, priapismo e acidentes vasculares cerebrais.

As manifestações clínicas da Anemia Falciforme variam de indivíduo para indivíduo. Além disso, elas estão relacionadas com a qualidade de atendimento e acesso aos serviços de saúde. Por isso a importância do diagnóstico precoce.

Nas diversas fases da vida o falcêmico pode defrontar-se com diferentes dificuldades. Existem algumas que atingem homens e mulheres igualmente e outras que dependem da idade e do sexo.

Cuidados com as crianças:

É importante que as crianças tenham um acompanhamento médico desde os primeiros meses de vida. Elas devem receber, além das vacinas de rotina oferecidas pelo serviço de saúde, vacinas contra hepatite B, meningite, pneumonia e contra uma bactéria chamada Hemophilus. Exames oftalmológicos devem ser feitos periodicamente.

A alimentação deve ser balanceada com frutas, verduras e legumes e é imprescindível a ingestão de bastante água e sucos para que as crianças não corram o risco de desidratação. Nas situações de crise, o médico deve ser consultado para que haja um acompanhamento.

Complicações:Na primeira infância as crianças têm:

-Maior risco de infecções: pneumonia e septicemia

-Inchaço doloroso das mãos e pés

-Crises dolorosas

-Retenção de sangue no baço

-Atraso na maturação sexual

-Prejuízo em termos de peso e altura.

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