20/05/2009
Secretaria Nacional de Divulgação e Comunicação da UGT
Em recente entrevista à Folha de São Paulo, publicada no último sábado(16) o jogador de futebol Ronaldo Fenômeno fez declarações que exigem reflexão. O jogador afirmou entre outras coisas que preferencialmente seus filhos vão estudar em colégios da Europa em decorrência de que na Europa o ensino é de melhor qualidade e que as crianças crescem sem a companhia de palavrões e malandragens das crianças brasileiras(sic) palavras do Fenômeno.
Na época do Império era comum os barões, condes e pessoas de um nível social e econômico elevado, encaminhar filhos para estudarem nos melhores educandários europeus. Até porque o sistema de ensino no Brasil era deficitário e as poucas escolas existentes não estavam preparadas para atender a demanda. O país vivia sua época áurea com a exploração do ouro e a agricultura garantia safras com toneladas de café e cana-de-açúcar. Assim, havia riqueza circulando e gerida por uma minoria. Aliás, nada diferente do que ocorre hoje. Daí, mandar filhos e filhas estudarem no Exterior era sinônimo de status.
O Fenômeno foi além em suas declarações ao dizer que seu filho, (com Milene Domingues), Ronaldo, de 9 anos, mora em Madri por questão de segurança.
O Corinthians é um time de futebol com uma das maiores torcidas do Brasil. Conforme estatísticas, perde apenas para o Flamengo. E sua torcida é formada, em sua maioria, de gente humilde. Tanto é que tem o apelido de Povão". Ao dizer que prefere seus filhos estudando na Europa e com amigos também do "Velho Mundo", o atacante Ronaldo Fenômeno reproduziu o que parte da elite brasileira pensa e faz
Reconhecemos que o nosso país tem que melhorar muito na formação e educação das crianças e acreditamos firmemente que mediante os esforços do nosso povo a educação poderá muito desenvolver, proporcionando conhecimento e principalmente formando pessoas de caráter, éticas e patrióticas que optam por levarem suas vidas no Brasil com sacrifícios profissionais e pessoais.
Viva as nossas crianças!.
(Marcos Afonso de Oliveira é Secretário Nacional de Divulgação e Comunicação da União Geral dos Trabalhadores- UGT)
Folha de São Paulo (16/05/2009)
Leia os principais trechos da sabatina com Ronaldo, que teve perguntas do público e dos colunistas da Folha Clóvis Rossi, Mônica Bergamo, Juca Kfouri e Xico Sá.
COPA DE 2006
Não existe só um porquê para o fracasso. Existem vários. Os jogadores tiveram sua parcela. Mas em se tratando de seleção, em Copa, é tudo muito exagerado, e isso só aumenta a pressão. Desde o início tudo estava muito confuso, a preparação em Weggis, que foi um grande carnaval, e é bom deixar claro que os jogadores não tiveram a ver com isso. Seja pelos torcedores, pela transmissão ao vivo de sessão de alongamento, que acho absurdo. A gente não teve liberdade pra treinar, pra errar, me queixei muito, outros atletas também.
FUTEBOL NO BRASIL
É bem diferente do futebol na Europa. Mas pra gente melhorar tem que aceitar os defeitos. E tudo é diferente. Vestiário, estádios, tipo de grama, o comportamento e organização de imprensa em campo. É diferente, e para pior. Aqui tem estádios que a gente vai e tem que descer na rua... Vestiário que não cabem 20 jogadores, e temos que trocar de dez em dez.
APOSENTADORIA
Não vou voltar pra Europa, quero ficar no Brasil, cumprir o contrato com o Corinthians, avaliar o que aconteceu e traçar novos objetivos... Vou reunir a família e decidir se jogo mais um ano ou não. Sou profissional do Corinthians até dezembro, e é claro que a preferência é do Corinthians. Terei que decidir com eles se vou parar. Quero ser um pai melhor pro meu filho. Sou um pai ausente. Quero dar atenção pra minha filhinha. Quando chegar a hora, a torcida pode não gostar, pode criticar, mas vai ter que aceitar. Tô começando a sofrer com a ideia e não sei se vai ser fácil, possível. Essa preparação pra parar vai ser dura. Depois, vou ficar um bom tempo fazendo nada, uns dois anos só relaxando, na água de coco, na praia.
COPA DE 2010
Vai interferir para prolongar minha permanência no futebol. Seria fantástico. Mas o Dunga, coitado, já tem muita pressão. E ainda não tenho condições de ir para a seleção. Sinceramente, eu digo que ainda estou buscando a melhor condição para jogar no Corinthians, administrando, treinando...
FLAMENGO
Num jogo em que eu estiver, vou fazer tudo pelo Corinthians. Mas, quando parar, por uma tradição da família, de três gerações... Sou flamenguista e vou torcer pro Flamengo.
FESTA DO PAULISTA
Quando acabou, a confusão que estava no campo... Imprensa, 200 radialistas colocando microfone na sua cara. Aí eu falei: "Vou pro vestiário ficar sozinho". Estourei uma champanhe que não era champanhe, porque a gente joga no Corinthians [risos]. Era coisa barata. Foi legal porque não estava tudo preparado. Acho que, faltando cinco minutos pro fim do jogo, saiu alguém pra comprar e voltou com a primeira coisa que viu. Mas misturei com o título e ficou uma coisa boa.
RICARDO TEIXEIRA
Até 2006, a gente tinha um ótimo relacionamento. Após 2006, esse relacionamento acabou sem eu saber o porquê e sem ninguém me dizer o que fiz pra ele deixar de gostar de mim. A gente se encontrou algumas vezes e ele foi super frio. E também não me importa ter um relacionamento com uma pessoa que demonstra duplo caráter. É muito fácil, na hora que ganha, levantar o troféu e ser campeão junto com os jogadores. E é muito fácil, na hora que perde, apontar alguém pra Cristo e crucificar essa pessoa. Mas não é o presidente que convoca para a seleção. Primeiro, é o próprio jogador, atuando no seu clube. Depois, é o Dunga.
ENCONTRO COM LULA
Foi maravilhoso. Ele só queria falar de futebol... Ele me chama de Fofão [risos], é ótimo. Chegou um momento que, pra mudar de assunto, perguntei da crise, e ele foi fantástico, porque disse que o Brasil foi o último a entrar e será o primeiro a sair. Isso dá esperança.
COPA DE 1998
Eu tive uma convulsão após o almoço de 30, 40 segundos. Quando voltei da convulsão tinha umas dez pessoas no quarto. No caminho pro lanche, o Leonardo disse que tinha coisas mais importantes na vida, como família, saúde. Perguntei se ele estava maluco. "Bebeu?" Depois, o médico disse que eu estava fora do jogo. Mas fiz os exames e deram ok. Falei pro Zagallo que queria jogar, e ele disse: "Se você está bem, vai jogar". Em qualquer outro país, seria considerado herói por ter tido a coragem de jogar. Mas no Brasil fiquei como amarelão. Nunca mais tive nada parecido. Todo ano faço um check-up.
POLÍTICA
Acho complicado um atleta que tem poder de influenciar tanta gente declarar voto. Já tive propostas de muito dinheiro para fazer campanha. O Aécio [Neves, governador de MG pelo PSDB] foi o único que eu apoiei, na primeira campanha. É um cara que conheço, em quem confio. Fui sondado pra ser ministro do Esporte há um tempo. São coisas que não posso dizer, mas que digo sem dizer nada.
DINHEIRO
Dinheiro nunca influiu em nada na minha vida. O importante são os desafios que me coloco. Em 2006 eu tinha o mesmo dinheiro de 2002, mas era um grande desafio. Por isso é difícil dizer que 2006 foi um fracasso. Só em 58 o Brasil ganhou a Copa na Europa.
FILHO "EUROPEU"
O Ronald [filho de 9 anos com Milene Domingues] mora em Madri, porque eu prefiro e a mãe também. Tem a ver com segurança, educação... Eu vejo crianças aqui, da idade dele, com um palavreado adolescente, palavrões até. O Ronald é uma criança doce, educada. praticamente um europeu. ["Ele é brasileiro!", grita uma mulher na plateia.] É brasileiro, mas eu prefiro que tenha amiguinhos europeus, sem a malandragem dos amiguinhos brasileiros. A gente quer sempre o melhor pros filhos, e eu, podendo escolher, prefiro que ele tenha educação europeia.
PRIVACIDADE INVADIDA
Me chateia bastante, porque é de um falso moralismo tremendo. Todo mundo tem direito de fazer o que quer da vida. Fico chateado porque é uma pequena parte da imprensa, mas que está crescendo. Infelizmente, o público gosta de uma fofoca. Tento não dar chance de falarem da minha vida, mas muitas vezes é inevitável, você quer ir a uma boate depois do jogo, porque está feliz...
TRAVESTI
Minha vida pessoal não interessa a ninguém. Foi um erro tremendo, me arrependo até hoje. E pra Deus todo pecado é igual, não tem pecado maior que o outro. Todos cometemos erros, mas aquilo virou um problema nacional quando, na verdade, era um problema só meu.
DROGAS
Eu já estava completamente arruinado e perdido naquele momento... E vem uma pessoa falando o que quer e ganha espaço na mídia. Deveria ter uma lei de veracidade, pra proteger as pessoas. Uma pessoa fala o que quer e é publicado. E o meio de comunicação deveria assumir a responsabilidade.
TV GLOBO
Não tenho nenhum contrato com a Globo, nunca tive. Só acho que a Globo tem um compromisso maior que as outras emissoras com a verdade, com a opinião dos envolvidos. "
UGT - União Geral dos Trabalhadores