03/06/2019
Na última semana, aconteceu em Bertioga o Seminário Internacional “O desafio sindical no novo mundo do Trabalho”, realizado pela CONASCON, confederação filiada à UGT. O evento reuniu centenas de dirigentes sindicais que debateram, entre outros assuntos, caminhos a serem seguidos pelas entidades em tempos de tantas transformações, políticas e capitais.
A abertura do encontro contou com uma palestra e debate conduzidos por Roberto Santiago, presidente da FENASCON, FEMACO e vice-presidente da UGT. Santiago – que também foi deputado federal por dois mandatos e eleito sete vezes consecutivas um dos parlamentares mais influentes do Congresso – explanou sobre a atual conjuntura política do país, avaliando as medidas antipopulares do Governo, chanceladas pelo Congresso Nacional.
“Vivemos um período muito difícil. A bancada trabalhista foi reduzida em Brasília, o que favoreceu o fortalecimento do setor patronal. Estamos assistindo sucessivas alterações feitas de modo unilateral, sem nenhum diálogo e de maneira tão profunda e extensa no sistema de relações de trabalho”, afirmou.
Santiago explicou que desde a aprovação da Reforma Trabalhista, várias formas de contrato, jornada e condições de trabalho foram criadas, permitindo alta flexibilidade e ajuste do custo salarial. “A proteção coletiva promovida pelas entidades sindicais ficou fragilizada. O trabalhador ficou mais exposto e submisso ao empregador. Os sindicatos são atacados na representação, no poder de negociação e no financiamento. A Justiça do Trabalho está com atuação limitada. As empresas ganham regras que as protegem e evitam passivos trabalhistas”, disse.
PREOCUPAÇÕES
Roberto Santiago ainda falou sobre a MP 873/19, que proíbe o desconto em folha da contribuição sindical e determina que o pagamento seja feito por boleto bancário, e sobre outra proposta que pode dificultar ainda mais a sobrevivência dos sindicatos como o fim do atual sistema de unicidade sindical.
A Reforma da Previdência também foi criticada. “Esse modelo está errado. Mais uma vez, querem impor que os menos favorecidos paguem a fatura. Isso não é reforma da previdência, mas sim a privatização dela”.
DESAFIOS
Embora essa conjuntura política não seja exclusivamente nacional, pois se trata de uma tendência mundial, Santiago afirmou que a autocrítica no movimento sindical se faz necessária. “Essa crise já era esperada, não apenas pelas perseguições políticas, mas pela transformação do mundo capital e do avanço da tecnologia”, disse.
Para ele, o sindicalismo precisa acompanhar a evolução do mercado e levantar novas bandeiras de luta, sem perder, é claro, a sua ideologia. “Devemos entender a modernidade tecnológica e associá-las à proteção do emprego. É preciso se reciclar”, afirmou.
“O mundo do trabalho, político e capital, passa diariamente por transformações e os sindicatos precisam ter essa mesma dinâmica para poder acompanhar as exigências da atualidade. O trabalhador deve tomar consciência do papel e da importância dos sindicatos. Mas, para isso, as entidades precisam ser inovadoras e se profissionalizar”, concluiu
UGT - União Geral dos Trabalhadores