01/04/2019
Os descontos oferecidos em compras à vista precisam ser maiores do que os 5% praticados atualmente no comércio online para estimular a adoção do crediário do cartão, a nova linha de crédito lançada pelos grandes bancos na semana passada.
Com o crediário do cartão de crédito, ao invés de o cliente pedir ao lojista para pagar em prestações, quitará a compra à vista no cartão e poderá, na tela da maquininha, contratar o parcelamento, mas com juros.
Segundo os bancos, isso pode estimular o vendedor a oferecer descontos, porque ele receberá a venda em até cinco dias e deixará de ter custos com antecipação de recebíveis, quando antecipa parcelas das vendas a prazo.
O crediário do cartão de crédito era a única de 21 medidas defendidas pelo setor para reduzir os juros
cobrados dos consumidores.
A Abecs (associação da indústria de cartões) defende ainda que o crediário ajudaria lojistas que hoje não conseguem parcelar compras, porque não têm capital de giro.
Justamente por isso, o produto começa pelos lojistas menores; só no segundo semestre deve chegar a grandes varejistas, e ainda não há previsão de adoção no comércio online.
O percentual de desconto oferecido no e-commerce para pagamentos à vista serve, porém, como uma régua para o cálculo da atratividade do novo crédito.
No final de 2016, uma medida provisória liberou a diferenciação de preços conforme o tipo de pagamento:
dinheiro, cheque, cartão de débito ou crédito, por exemplo.
No entanto, a prática não pegou. Para Boanerges Ramos Freire, presidente da consultoria Boanerges&Cia, o motivo é a dificuldade de anunciar uma promoção com preços distintos.
Mesmo nos casos em que o parcelamento com juros possa sair mais barato, como em prazos mais curtos de pagamento, há ainda o desafio de criar a cultura de vendas a prazo com juros.
“A gente coloca na rua um produto que tem um concorrente desleal, o parcelado sem juros. Se a gente não tiver proatividade, talvez demore mais para a adoção”, afirma Rogério Panca, diretor de Meios de Pagamento do Banco do Brasil.
Para isso, os bancos estão iniciando a linha com juros a partir de 0,99%, caso do Itaú e do Bradesco.
O custo é mais baixo do que a taxa média praticada em créditos com garantia, como o consignado (com desconto em folha de pagamento) e o financiamento de veículos.
“Quando amplia a quantidade de pessoas que adotam produto que tem juros, isso permite que o mercado cobre taxas menores”, afirma Marcelo Kopel, diretor do Itaú Unibanco.
Simulações feitas pela Folha mostram que, para o parcelamento em 10 vezes, o desconto de 5% faria o produto parcelado a juro de 0,99% custar praticamente o mesmo caso o cliente tivesse pago o valor em “10 vezes sem juros” no parcelamento da loja.
Em prazos menores, nessa taxa, o desconto pode ser vantajoso. Taxas maiores, que devem ser mais frequentes, tiram a competitividade do produto (veja quadro).
Panca, do Banco do Brasil, afirma ainda que as taxas podem se manter relativamente baratas porque se somam a outras receitas que os bancos já geram com o cartão de crédito.
São elas a anuidade, os juros de parcelamento de fatura e rotativo e ainda a taxa de intercâmbio, o percentual que o banco recebe a cada vez que o cartão é utilizado.
“O crediário pode ser porta de entrada para aumentar faturamento e uso do cartão”, afirma Panca.
Há também uma segunda dificuldade, mas que os bancos ainda não consideram preocupante: o comprometimento do limite do cartão.
Quando o consumidor fizer uma compra mais cara, poderá congelar uma fatia grande do total que o banco permitiu que gastasse no cartão. E com prestações baixas em um prazo longo, o limite demora a ficar disponível novamente.
O Bradesco afirmou que a prestação mínima do crediário será de R$ 10 e o valor mínimo da compra a ser financiada, R$ 200. Os demais bancos não detalharam as condições.
Kopel diz que o banco deve acompanhar o uso e a capacidade de pagamento da fatura em dia para elevar o limite de crédito e evitar que o cartão “vá para a gaveta porque estourou”. Isso, segundo ele, independe do novo crediário.
“Nossa maior preocupação é não gerar superendividamento”, afirma o executivo do Itaú.
No Banco do Brasil, os limites de crédito para compras recorrentes e no crediário são diferentes, mas podem ser deslocados rapidamente.
Fonte: Folha de S.Paulo
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