21/03/2019
Estudo com nove grandes bancas traça panorama da falta de diversidade na advocacia nacional
Advogados negros representam menos de 1% do corpo jurídico de nove das maiores bancas do país. A conclusão é do Censo Jurídico 2018, de autoria do Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades (CEERT).
A pesquisa foi feita em parceria com a Aliança Jurídica pela Equidade Racial e a FGV Direito SP. A aliança tem o objetivo de aumentar a diversidade racial no mercado da advocacia e é formada pelos escritórios Trench Rossi, TozziniFreire, Mattos Filho, BMA, Demarest, Lefosse, Pinheiro Neto, Veirano e Machado Meyer.
A pesquisa, que será divulgada nesta quinta-feira (21/3) em evento na FGV-SP, coletou respostas de 3624 funcionários dos escritórios da aliança, incluindo: corpo jurídico, setor administrativo e auxiliares. O corpo jurídico contabiliza os cargos de advogado júnior, pleno, sênior e os sócios das bancas.
De acordo com a pesquisa, somente 19% de todos os funcionários dos escritórios são negros. As mulheres e homens negros representam 10% e 9%, respectivamente, do total de trabalhadores das empresas.
A pesquisa também concluiu que 11% dos funcionários brancos nas bancas são sócios. Quanto aos negros, não há uma quantidade significativa de sócios, nem de advogado sênior, pleno ou sequer de júnior.
Entre os cargos relacionados ao Direito, só há quantidade significativa de negros na função de estagiários. Eles representam 9% do total de negros que participaram do estudo.
A pesquisa também revelou que 36% dos negros sabem de vagas de trabalho pela internet, enquanto uma das principais formas dos brancos para se informarem de oportunidades de trabalho é por meio de amigos ou parentes.
Representatividade dos negros em cargos da advocacia
“Isso mostra um problema em relação ao acesso aos grandes escritórios pelos negros. É preciso melhorar o processo de recrutamento dos escritórios por meio da busca ativa por esses advogados e até mesmo parcerias com coletivos negros em universidades”, afirma o professor e pesquisador Thiago Amparo, da FGV Direito SP, um dos responsáveis pelo estudo.
Ele acrescenta que outras ações como incluir negros em fotos de propagandas e campanhas de comunicação dos escritórios, além de um maior relacionamento com as universidades podem tornar o ambiente das bancas mais “amigável”.
“Percebemos que os brancos têm maior contato com profissionais dentro do escritório e uma maior possibilidade de networking. Ações como oferecer cursos de inglês, capacitação em diversas áreas e mentoria são formas de furar esse bolha de networking”, diz Amparo.
Outro dado que mostra a falta de acesso aos escritórios é a menor quantidade de negros contratados por meio de programas de estágio. Pouco mais de 20% entraram nas bancas após o processo seletivo de estudantes. A taxa para os brancos é de 35%.
“Esse dado vai contra a estatística de aumento da quantidade de estudantes negros em faculdades de Direito, principalmente as que aplicam políticas afirmativas, como é o caso da Universidade de São Paulo (USP)”, avalia o pesquisador.
Salário e educação
Entre os escritórios que participaram da pesquisa, também foi verificado que não há uma quantidade significativa de negros que recebam mais de 10 salários mínimos. Para os brancos, a taxa é de praticamente 33%. Além disso, 18% dos negros têm remuneração de 5 a 10 salários mínimos, ou seja, 82% recebem menos do que 5 salários mínimos.
“Isso não significa necessariamente que os negros recebem menos nos escritórios. Mas é um dado que mostra que nas posições mais altas, como é o caso dos sócios, não há atuação dos negros”, diz Amparo.
Apesar deste cenário, o pesquisador afirma que há uma quantidade significativa de profissionais negros com boa formação e capacitados para atuarem nas grandes bancas. Um dos dados revelados pelo estudo é que 22,4% das mulheres negras que responderam à pesquisa têm uma pós-graduação, MBA ou L.L.M concluídos.
Para Amparo, o número mostra que parte significativa, quase um quarto das respondentes da pesquisa, tem boa formação profissional. Além da remuneração e escolaridade, o estudo indica que os negros gastam mais tempo se locomovendo ao local de trabalho. Mais de 40% deles gastam até duas horas para chegar ao escritório, enquanto a maioria dos brancos gasta no máximo 30 minutos.
Tempo de deslocamento ao trabalho
“Os números do estudo são preocupantes. Entretanto, a união dos escritórios para a formulação dessa pesquisa mostra que há uma iniciativa para modificar esse quadro estarrecedor”, conclui Amparo.
Fonte: Jota.Info
UGT - União Geral dos Trabalhadores