15/03/2019
Ao menos 49 pessoas morreram e dezenas ficaram feridas durante ataques a duas mesquitas na cidade de Christchurch, na Nova Zelândia, nesta sexta-feira, 15. Autoridades disseram que mantinham quatro pessoas sob custódia - três homens e uma mulher -, mas depois esclareceu que apenas três delas estariam envolvidas nas ações. Um homem de cerca de 30 anos, cuja identidade não foi divulgada, foi preso acusado de assassinato e se apresentará ao tribunal no sábado.
O comissário Mike Bush afirmou que foram encontrados "dispositivos explosivos nos veículos utilizados pelos suspeitos" e que o Exército conseguiu desarmar as bombas. As motivações do crime ainda não foram esclarecidas. As mesquitas atacadas são Masjid Al Noor, no centro da cidade, e Linwood, localizada a cerca de 5 km da primeira, segundo a polícia.
O primeiro-ministro da Austrália, Scott Morrison, confirmou que entre os detidos há um cidadão australiano. Além disso, um homem que assumiu a autoria dos atentados escreveu um manifesto anti-imigração de 74 páginas na internet no qual explicava as suas motivações.
No manifesto, ele se identifica como um australiano de 28 anos branco e nacionalista. A publicação do suspeito incluía um link para o perfil no Facebook de um suposto atirador, no qual ele dizia que transmitiria o ataque ao vivo na rede social.
As autoridades locais não informaram as identidades dos detidos. De acordo com a primeira-ministra da Nova Zelândia, Jacinda Ardern, todos eles têm visão extremista, mas não eram vigiados pela polícia. Ela afirmou que o nível de ameaça à segurança nacional foi elevado para o segundo mais alto.
A polícia advertiu a população a evitar as mesquitas em todo o país e ressaltou que não procura mais suspeitos. Um enorme cordão policial foi formado para isolar parte de Christchurch, cidade da Ilha do Sul da Nova Zelândia. Mike Bush afirmou que todas as escolas da cidade estão fechadas e a polícia pediu "às pessoas no centro que evitem permanecer nas ruas e informem qualquer comportamento suspeito".
Policiais retiraram os moradores de uma propriedade perto da cidade de Dunedin, suspeitos de terem ligação com os ataques às duas mesquitas.
Na mesquita Masjid Al Noor, um imigrante palestino que pediu para não ser identificado disse que viu um homem ser baleado na cabeça. "Escutei três tiros e após uns dez segundos tudo começou novamente. Devia ser uma arma automática porque ninguém consegue apertar o gatilho tão rapidamente", contou ele. Segundo testemunhas, "as pessoas saíram correndo" do local, "algumas cobertas de sangue".
Uma testemunha, Len Peneh, disse que viu um homem com roupas pretas entrar na mesquita e logo depois escutou dezenas de disparos. Ele contou também que viu o agressor enquanto fugia antes da chegada das equipes de emergência, e que entrou no local para tentar ajudar. "Vi mortos por todos os lados." Minutos depois, a imprensa local reportou disparos em outra mesquita.
No momento do atentado, a mesquita Masjid Al Noor estava repleta de fiéis, incluindo a equipe de cricket de Bangladesh. Segundo testemunhas, os jogadores conseguiram fugir para um parque ao lado do prédio, no centro da cidade.
Um porta-voz da equipe confirmou que todos os jogadores, que estão no país para uma partida, conseguiram escapar ilesos. "Estão em segurança, mas também em estado de choque. Dissemos para toda a equipe ficar confinada no hotel", informou o porta-voz. O jogo que estava marcada para este sábado contra a Nova Zelândia foi cancelado.
A companhia aérea Air New Zealand cancelou ao menos 17 voos que chegariam e sairiam de Christchurch, sob o argumento de que os funcionários não poderiam rastrear passageiros e suas bagagens.
Um vídeo de 17 minutos publicado em uma rede social parece mostrar momentos do ataque. As imagens, que podem ter sido feitas a partir de uma câmera instalada em um capacete utilizado pelo atirador, mostram o rosto do suspeito através do espelho retrovisor do veículo em que estava. Ele aparece dirigindo pelas ruas de Christchurch antes de estacionar em frente à mesquita de Al Noor, entrar e efetuar os disparos.
É possível vê-lo deixar o local e disparar em várias direções na calçada antes de voltar ao carro para pegar outra arma. Ao retornar ao prédio, ele atira contra diversas pessoas próximas. Depois de alguns minutos, ele volta ao veículo e foge. "Não houve sequer tempo para mirar, havia tantos alvos", diz o homem do vídeo. Apesar das imagens, as autoridades ainda não confirmaram que se trata dos atentados desta sexta-feira.
A polícia fez um apelo para que as pessoas não compartilhem nas redes sociais "imagens extremamente insuportáveis".
Jacinda Ardern lamentou que seu país vive um dos "dias mais obscuros" de sua história diante das "múltiplas vítimas" nas duas mesquitas. "Fica claro que este é um dos dias mais obscuros da Nova Zelândia. Claramente o que ocorreu aqui foi um ato de violência extraordinário e sem precedentes." Segundo ela, "muitas pessoas afetadas diretamente pelo ataque devem ser imigrantes, talvez refugiados, que escolheram a Nova Zelândia para seu lar".
O líder da oposição, Simon Bridges, manifestou publicamente seu "apoio à comunidade islâmica" local. "Ninguém neste país deveria viver com medo, não importa sua etnia ou religião." O premiê Scott Morrison se declarou "horrorizado com as informações" sobre os ataques no país vizinho.
A Nova Zelândia é conhecida por ser um país de baixa criminalidade, onde o "uso de armas de fogo em crimes é um evento raro", segundo as orientações do departamento americano de Estado para viajantes dos Estados Unidos. Em 2017, houve 35 assassinatos no país e, desde 2007, a taxa de homicídios com armas é de apenas um dígito - com exceção de 2009, quando foram registrados 11 casos.
Contudo, há muitas armas em circulação na Nova Zelândia. De acordo com a Small Arms Survey, uma organização suíça sem fins lucrativos, cerca de 1,2 milhão de armas de fogo foram registradas em 2017 no país de 4,6 milhões de habitantes. Proprietários precisam ter licença, que é obtida a partir de um processo que inclui uma revisão das atividades criminais e de saúde do indivíduo, a participação em um programa de segurança, um curso de como utilizar uma arma, uma visita ao lar do requerente para garantir que ele dispõe de um local seguro para armazenar o objeto, e depoimentos de parentes e amigos.
Fonte: Estadão
UGT - União Geral dos Trabalhadores