12/03/2019
Crise na Argentina, principal mercado consumidor das exportações brasileiras, deve prosseguir em ano marcado por incerteza eleitoral, e recuperação não é esperada antes do último trimestre
Apesar da produção de veículos apresentar avanço contínuo no País, as exportações seguem em queda, sem perspectiva de reação no curto prazo diante da crise na Argentina. Neste cenário, as vendas internas vêm sustentando o crescimento da indústria.A analista da Tendências Consultoria, Isabela Tavares, aponta que, após uma retração no fim de 2018, as vendas voltaram a ficar aquecidas no primeiro bimestre deste ano. “É um crescimento importante e puxa o desempenho da produção.
Além do movimento de licenciamentos, houve um acúmulo de estoques, o que mostra essa melhora na fabricação.”Segundo a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), no mês passado a produção cresceu 29,9% sobre janeiro e 20,5% na comparação anual, atingindo 257,2 mil unidades.
O resultado foi o melhor para um mês de fevereiro desde 2014. Parte desse crescimento se deve ao fato do Carnaval do ano passado ter ocorrido no período. No acumulado de 2019, a produção teve alta de 5,3% ante igual período de 2018.O mês de fevereiro também foi o melhor desde 2014 em vendas, totalizando 198,6 mil licenciamentos de veículos novos, crescimento de 26,6% na comparação anual. “Foi um bom mês para as vendas, mesmo sendo mais curto. Mas os números de março devem ser inferiores em relação ao ano passado, em função do Carnaval”, estima o presidente da Anfavea, Antonio Megale.
De acordo com a entidade, os estoques do setor em fevereiro chegaram a 288,1 mil unidades, o que representa cerca de 43 dias. “Esse cenário deve continuar ao longo do ano, com vendas internas aquecidas, favorecidas por melhora no mercado de trabalho, condições de crédito atrativas e retomada de investimentos”, prevê Isabela.A analista explica que a queda no nível de inadimplência tem facilitado a aprovação de financiamentos. “Isso faz com que os bancos sejam menos seletivos”, esclarece.Exportações O levantamento da Anfavea mostra, em fevereiro, alta de 61,8% das exportações sobre janeiro.
Porém, na comparação anual, houve queda de 38,9%. “A Argentina, nosso principal comprador, ainda passa por problemas difíceis”, destaca Megale. Ele só vê perspectiva de recuperação no último trimestre do ano.Isabela assinala que o país vizinho ainda deve enfrentar um período turbulento em 2019. “Além de toda a incerteza econômica, a Argentina vai passar por eleições presidenciais, o que também cria incerteza política. Não é de se esperar uma forte retomada.”
Em relação ao tratado com o México, que prevê o livre comércio de veículos e autopeças a partir de 19 de março, Megale afirmou que os governos dos dois países estão negociando. “Externamos nossa preocupação, uma vez que constatamos que há uma defasagem competitiva com México.”O dirigente explica que o acordo, firmado em 2015, previa novas tratativas em 2018, o que não aconteceu. “Não queremos restrições nas importações e exportações, mas acreditamos que devem ser feitas de forma gradual. A regra de origem, por exemplo, deveria passar por uma discussão mais aprofundada”, relata.Megale disse acreditar que o País pode voltar a ser um dos cinco maiores mercados do mundo, mas é necessário que a economia volte a crescer de forma robusta e melhore a sua competitividade. “Temos que ter pretensões maiores, buscar novos mercados. O Brasil tem um parque importante que precisa ser ocupado e ganhar escala para que os fabricantes voltem a apresentar resultados positivos”, avalia.
Fonte: Jornal DCI
UGT - União Geral dos Trabalhadores