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Consumo melhora em 2018, mas não garante padrão de vida


01/03/2019

O mercado interno ajudou no crescimento do país em 2018, mas não é possível dizer que foi um ano fácil para os brasileiros.

 

Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o 1,1% de crescimento da economia resultou de 1,6% no avanço da demanda interna com a queda de 0,5% no resultado do setor externo.

 

Rebeca Palis, coordenadora de contas nacionais do IBGE, diz que a crise da Argentina afetou as exportações, mesmo diante da desvalorização cambial no período, que favorece as vendas externas.

 

No ano anterior, a conta foi bem diferente. A demanda interna somou 1% ao resultado, enquanto o setor externo agregou 0,1%.

 

"Todos os componentes da demanda interna em 2018 cresceram, mas o PIB não foi melhor por causa do desempenho do setor externo", diz.

 

Mesmo com a retomada lenta, o consumo geral avançou 1,9% em razão do aumento real da massa salarial, da maior oferta de crédito, da queda da taxa de juros e da inflação sob controle.

 

A maioria, porém, teve de se adaptar para manter a roda da economia girando.

 

Em São Paulo, Maria Luiza Vianna, 63, está aposentada há cinco anos e trabalhava no que chama de "PJ interno" (recebia como pessoa jurídica, mas trabalhava como uma funcionária de carteira assinada) há anos no mercado editorial.

 

Em virtude da dificuldade do setor, foi dispensada com outros colegas. Para adicionar uma fonte de renda à aposentadoria, alugou um Fiat Uno e virou motorista de Uber, das 6h às 20h.

 

"Estou ganhando a mesma coisa. Quebrei o cartão de crédito e criei uma planilha de Excel", diz.

 

Em seus cálculos, ela precisa ganhar R$ 150 por dia para cobrir o custo do carro. "Tento R$ 250 para ter uma margem de lucro, o que totaliza umas 14 viagens por dia."

 

Em Porto Alegre, o servidor estadual Paulo Gomes da Silva, 59, se aposentou. Precisou segurar o consumo, consequência dos anos precedentes. Economista, viu as próprias finanças no vermelho.

 

Por mais de três anos, teve salários atrasados porque o governo gaúcho alegou não ter dinheiro. "As contas têm dia exato para vencimento, mas não sei quando entra o dinheiro na conta."

 

A situação é semelhante à da montadora Eliana Costa, 32, de Belo Horizonte, que trabalhou por seis anos com carteira assinada e, justo quanto havia decidido que compraria uma casa, precisou suspender o plano em razão da demissão.

 

A empresa de disjuntores e chaves elétricas em que trabalhava foi adquirida por outra. 

 

De 500 funcionários da fábrica de Contagem (MG), 60 foram demitidos.

 

"Meu marido é agente penitenciário, funcionário público, quero buscar a estabilidade e salário fixo, que até um certo momento eu tive", diz.

 

Sob a ótica da demanda interna, o consumo das famílias deu a maior contribuição ao crescimento do PIB em 2018.

 

Talita da Silva, 28, foi uma das beneficiadas por esse impulso. Depois de dois anos de desemprego, conseguiu uma vaga como operadora de caixa em um supermercado no interior paulista. "É muito diferente de viver fazendo bico."

 

Dona de uma loja de roupas em Curitiba, a comerciante Vera Lúcia de Paula, 59, diz que 2018 foi atípico.

 

"Teve greve dos caminhoneiros, ameaça de greve nos bancos e eleições. No inconsciente coletivo, todo mundo estava com medo", afirma. 

 

No balcão de sua loja, ela viu os clientes gastarem menos por impulso.

 

O resultado do PIB colocou um freio no otimismo para 2019, que terá uma herança fraca de 2018.

 

Diante da crise nos últimos anos e prevendo a retomada de empregos, o administrador Patrick Gouy, 38, abriu uma startup de recrutamento em Pernambuco.

 

Ele investiu R$ 150 mil em uma ideia que seleciona pessoas com a ajuda da tecnologia. "Em tempo de retomada, as corporações estão cautelosas, mas precisam otimizar seus recursos", explica.

 

Seu 2018 foi bom: em um ano, conquistou 25 clientes, alguns como a multinacional Unilever.

 

Neste ano, a expectativa do administrador é de investimentos nos negócios.

 

Fonte: Folha de S.Paulo


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