10/09/2018
Diante de um cenário político imprevisível e um mercado volátil, os investidores partiram em peso para o Tesouro Direto. Em julho, foram 107 mil novos cadastros, a maior entrada em um mês desde o início do programa, em 2002 – e 27 mil acima do mês anterior. As pessoas também estão aplicando mais: foram 16 mil novos cadastros ativos ante 10 mil em junho. No total, já são mais de 2,3 milhões de cadastros no programa de compra e venda de títulos públicos, um aumento de 55,7% nos últimos 12 meses.
“Esse pode ser um novo patamar”, acredita Paulo Marques, gerente do Tesouro Direto. Segundo ele, as incertezas tanto no exterior quanto no mercado interno tendem a levar as pessoas para aplicações menos arriscadas – e, naturalmente, elas caem na renda fixa, a despeito dos juros em um patamar historicamente baixo.
A guinada no Tesouro acontece em meio a um cenário que penaliza a maioria dos investimentos considerados mais arriscados, como ações e fundos multimercado, destaca o professor de Finanças do Coppead/UFRJ Carlos Heitor Campani. Ele lembra que junho, mês que antecedeu o recorde do Tesouro, a Bolsa acumulou perda de 5%, enquanto o dólar subiu 4%. “O medo leva as pessoas para o extremo oposto.”
A grande demanda pelo Tesouro Selic – 47% das vendas – reforça a tese de Campani. Esse título é considerado o mais seguro, pois acompanha a taxa básica de juros. Ele permite resgate a qualquer momento sem risco de perdas, uma vez que, independentemente do cenário, o investidor ganha o juro básico.
Olhando para os outros títulos, Marcos Piellusch, professor do Laboratório de Finanças da FIA, salienta que há bons retornos que chamam o investidor para essa aplicação. Para se ter uma ideia, o Tesouro IPCA+ 2024, está pagando uma taxa de 5,86% mais a variação da inflação. Outro exemplo é o título prefixado com vencimento em 2021, com taxa a 9,85%. Na comparação com produtos com taxa de administração maior do que 0,5% ao ano (custo médio da taxa de custódia do Tesouro mais o Imposto de Renda), tratam-se de bons rendimentos para aplicações de baixíssimo risco, diz.
Esses títulos, contudo, sofrem com a marcação a mercado – atualização do preço do ativo. Ou seja: se o investidor quiser se desfazer do títulos antes do prazo, está sujeito a uma nova taxa, que pode ser maior ou menor que a inicial. Se levar até o vencimento, não terá surpresas e receberá a taxa contratada.
Além do cenário atual, Myrian Lund, professora de finanças da FGV, destaca que a educação financeira também é um dos motivos para o recorde. Ela acredita que esse perfil de investidor – que faz aportes baixos e olha para o curto prazo – não está tão atento à conjuntura, mas sim a alternativas à poupança, e o Tesouro é a porta de entrada. Hoje, a caderneta está em desvantagem, pois paga 70% da Selic. O Tesouro Selic 2023 daria, por exemplo, um retorno líquido de 6,38% ao ano; já a poupança, de 5,5%.
Fonte: Estadão
UGT - União Geral dos Trabalhadores