19/06/2018
A constatação de que a economia deve crescer menos do que o esperado fez os empresários da indústria cortarem investimentos previstos para este ano. A greve dos caminhoneiros, que tirou quase 15 dias de faturamento das empresas, ampliou as incertezas no mercado interno, que já embutia o risco eleitoral. As pressões externas, que culminaram com a alta do dólar, também aumentaram as preocupações do setor.
Duas pesquisas revelam que, nas últimas semanas, os empresários ficaram receosos em prosseguir com investimentos que gerassem aumento de produção, diante de uma ociosidade entre 25% e 30% nas fábricas. Na semana passada, a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) cortou a projeção de investimento do setor para este ano. Em março, a expectativa, baseada na consulta a 442 empresas, era de que seria investido 1,2% mais do que em 2017. Agora, a estimativa é de queda de 0,4% ou R$ 503 milhões a menos. Com isso, o aporte total deve ser de R$ 117,3 bilhões. “O grande problema foi a redução da projeção do PIB e a greve”, afirma o presidente em exercício da Fiesp, José Ricardo Roriz Coelho.
Outra pesquisa mostra que os empresários da indústria começaram a segurar os investimentos antes mesmo da greve. O Indicador de Intenção de Investimentos da Indústria do segundo trimestre, apurado pelo Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da FGV com cerca de 700 empresas em abril e maio, caiu 7,6 pontos em relação ao primeiro trimestre. O resultado é quase o mesmo do fim de 2017 e está abaixo da média registrada antes da recessão de 2014. “É um sinal preocupante porque 95% das indústrias foram consultadas antes da greve, que adicionou mais incertezas”, diz o superintendente de Estatísticas Públicas da FGV/Ibre, Aloisio Campelo Jr.. Se a apuração tivesse ocorrido na época da greve, ele acredita que o resultado seria pior.
A retração de aportes da indústria afeta o investimento total da economia. O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) projeta para este ano aumento de 4,5% da Formação Bruta de Capital Fixo, que mede o investimento. Seria o primeiro avanço desde 2013. Segundo o diretor do Ipea, José Ronaldo de Castro Souza Júnior, diante das incertezas, a alta deverá ser menor. “Os efeitos de se investir menos são perda de renda e de crescimento do PIB e a redução na capacidade de produção”, diz Souza Júnior. Além disso, acrescenta Roriz Coelho, sem investimento em modernização, a produtividade cai e o País fica ainda mais distante de competidores globais.
Fonte: Estadão
UGT - União Geral dos Trabalhadores