23/05/2018
A ata do último encontro do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, publicada nesta terça, deixou clara a preocupação da instituição com o ambiente externo, que fez o dólar disparar ante o real. Ao justificar a manutenção da Selic (taxa básica de juros) em 6,50% ao ano na semana passada, o BC reconheceu que o cenário externo “tornou-se mais desafiador” e que o risco para os países emergentes aumentou.
Para analistas, a preocupação expressa na ata acabou por escancarar os erros de comunicação do BC nas semanas que antecederam a decisão. Entre 27 de março, quando foi divulgada a ata anterior, e 8 de maio, dia anterior ao chamado “silêncio do Copom”, quando os dirigentes da instituição deixam de falar publicamente sobre juros, o BC indicou que o cenário externo era preocupação menor, considerando a fraqueza da atividade no Brasil e o baixo nível da inflação.
Nesse período, o dólar à vista avançou 12% ante o real, para o patamar de R$ 3,66. De 27 de março a 8 de maio, Ilan falou publicamente em pelo menos 21 oportunidades – manteve o discurso de que a alta do dólar era “normal” e não era um “problema do Brasil”, mas de todos os países.
De 55 instituições financeiras consultadas pelo Projeções Broadcast, 53 esperavam pelo corte de 0,25 ponto da Selic. O BC surpreendeu e manteve a taxa em 6,50% ao ano. Por trás da decisão está a leitura de que um dólar mais alto pode contribuir para uma inflação mais elevada em 2018 e 2019. O centro da meta de inflação perseguida pelo BC é de 4,5% para 2018.
Na ata, o BC pontuou que o risco de alta de juros mais rápida em economias centrais, como os EUA, trouxe volatilidade para os ativos ao redor do mundo. A instituição fez referência a riscos geopolíticos e a disputas comerciais que ameaçam o comércio global. Esse cenário nebuloso acabou se sobressaindo aos dados mais recentes da economia brasileira, com inflação baixa e atividade fraca.
O BC reconheceu na ata que a comunicação recente do Copom – colegiado formado por Ilan e pelos oito diretores do banco – “parecia ter sido interpretada por parte do público” como indicativa de uma decisão de corte da taxa. De acordo com a ata, prevaleceu o entendimento de que focar na “melhor decisão possível” – ou seja, na manutenção dos juros – “resulta em maior credibilidade”.
O economista-chefe do Banco Safra, Carlos Kawall, afirma que o BC procurou mostrar que “não é porque o dólar sobe que a política monetária reage”. “Isso depende do repasse cambial para a inflação e do impacto secundário sobre os preços”, disse.
Para o economista José Márcio Camargo, da Opus Investimentos, a ata mostrou que houve problema de comunicação entre a manifestação da diretoria do BC e a decisão do Copom. “O comunicado deu a entender que o BC estaria mais preocupado com o câmbio do que deveria.
Fonte: Estadão
UGT - União Geral dos Trabalhadores