17/05/2018
"Voo da galinha” e “pulo do gato morto” são duas imagens zoológicas comuns aos mercados.
Na primeira, a galinha de asas curtas não vai longe —é a recuperação que não sustenta um crescimento maior.
Na segunda, o gato despenca e morre; mas, com o impacto, dá um último pulo antes de cair novamente —é a forte recessão seguida de pequena recuperação e outra crise.
O Brasil evoca ambas.
Há um ano, apostava-se que economia estaria bem melhor nessa altura do ano eleitoral, alimentando as chances do campo governista.
Como resultado dessa aposta, em 2017 a Bolsa subiu 26% e o dólar estacionou perto de R$ 3,30. Agora, ele ronda R$ 3,70 e o crescimento no ano pode ficar em 2,5%, ou menos.
Há duas razões para isso: uma é externa; a outra, provocada aqui.
Os EUA crescem mais do que o previsto e, preocupado com a inflação, o banco central lá elevou os juros, tornado empréstimos a consumidores e empresas mais caros. A taxa atingiu 3% ao ano (títulos de dez anos) nesta semana, maior patamar desde 2011.
Há uma migração global de investidores para aplicar em títulos americanos, o que está tirando dinheiro de países como o Brasil e valorizando o dólar aqui.
Essa parte da história era prevista, embora tenha ocorrido antes do esperado.
Já a deterioração das expectativas no Brasil é um problema nosso, que tem tudo a ver com o cenário eleitoral.
Para azar do campo governista e dos partidos que apoiaram as reformas do governo Temer, paradoxalmente toda a crise gerada por Dilma 2 (queda de -7,2% do PIB em 2015-2016) prejudica agora essas mesmas forças, que tiraram o país da recessão.
Apesar da crise mais aguda ter sido estancada, o desemprego segue elevado e a deterioração social é visível, fatos que vêm sendo identificados com os partidos que patrocinaram as reformas, como MDB, PSDB e DEM.
É do jogo que os candidatos hoje mais bem colocados (Bolsonaro, Ciro e Marina) explorem esse flanco. Mas eles também colocam a tênue recuperação em risco ao sinalizar que podem rever justamente medidas que nos ajudaram a sair da crise, como o teto dos gastos.
Ou quando, por conveniência, não explicitam a gravidade de nossos problemas fiscais e a necessidade de reformar profundamente a Previdência.
Com dúvidas imensas sobre o futuro, os empresários não vão investir ou contratar. E só consumo não vai sustentar a recuperação.
Para os mercados nos transformar de "galinha" em "gato" é um pulo.
Fonte: Folha de SP
UGT - União Geral dos Trabalhadores