09/05/2018
A forte desvalorização da moeda da Argentina, que levou o país a pedir inclusive ajuda internacional, vem permitindo que a viagens de turistas brasileiros para o país vizinho fiquem mais baratas, segundo agências e especialistas ouvidos pelo G1. Isso porque, com a queda do peso argentino em relação ao dólar e ao real, despesas com hospedagem e alimentação, por exemplo, tendem a ficar mais vantajosas para os estrangeiros que visitem a Argentina.
Apesar de a desvalorização mais intensa da moeda argentina ser recente, já é possível notar mudanças em alguns preços para turistas do Brasil. “É possível encontrar serviços de turismo na Argentina com até 30% de desconto”, afirma Rodrigo Vaz, diretor de produtos internacionais para Américas da CVC.
Já Aldo Leone Filho, presidente da Agaxtur, diz que para esta semana a empresa preparou uma promoção com descontos próximos de 10% em pacotes para a Argentina. “Estou fazendo uma ação gigante a partir desta quarta-feira (9)”, contou em entrevista ao G1 sobre a promoção que será feita em um shopping de São Paulo.
A economista Juliana Inhasz, professora da Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado (Fecap), explica que o momento “pode ser uma oportunidade” para turistas que queiram conhecer o país vizinho. “O que acontece é que a moeda deles se desvalorizou numa velocidade maior que a nossa”, diz ela, lembrando porém que o real também vem perdendo valor nos últimos dias.
Mas Vaz e Leone contam que, mesmo com o dólar subindo, a desvalorização do peso é suficiente para que os preços de viagens para a argentina em suas agências fiquem menores.
“A companhia aérea acaba baixando o preço da passagem em dólar”, diz o presidente da Agaxtur. “As companhias aéreas já têm seus voos regulares definidos e reagem de forma a equilibrar seus preços. Tem negociações também, elas têm interesse em ocupar seus voos”, complementa Vaz, da CVC.
Peso caindo mais que o real
O peso argentino, assim como o real brasileiro, vem sofrendo com a tendência de alta do dólar nos mercados externos. Mas as incertezas internas sobre a economia da Argentina fazem com que sua moeda sofra mais – o que resulta em uma desvalorização maior do peso.
Os números mostram que o peso argentino perdeu mais valor que o real: neste ano, enquanto o dólar já subiu 7,7% sobre o real, em relação à moeda argentina o avanço já é de 24%. Em 12 meses, o dólar subiu 11,6% sobre o real e 47,4% sobre o peso argentino.
Na comparação direta entre o real e o peso, também é possível ver a diferença: enquanto no final do ano passado o turista precisava de R$ 0,17 para comprar 1 peso argentino, agora precisa de R$ 0,15 – o que quer dizer que o peso já se desvalorizou 9,5% sobre o real em 2018 até agora.
Além de o real perder menos valor em relação ao dólar, “a gente tem outra vantagem nessa conta”, explica Inhasz. “A nossa inflação está controlada, entre 2 e 3% ao ano, diferente da inflação deles. Então, a nossa moeda vai ganhando valor frente à deles.” A projeção do Fundo Monetário Internacional (FMI) é que a inflação na Argentina termine o ano em 22,7%.
Procura por pacotes
A desvalorização do peso nos últimos dias coincide com uma época em que a demanda de brasileiros por pacotes de viagem para a Argentina, segundo Vaz, já é alta. Isso por causa da proximidade do inverno e das férias de julho. “Bariloche, por exemplo, é um destino que explode nessa época”, diz ele.
A alta do dólar também costuma fazer com que os turistas deixem de lado destinos como Orlando e busquem alternativas. “O cliente busca alternativas que caibam no bolso dele. Tem esses fatores associados agora”, diz Vaz.
Mas ele reconhece que a desvalorização recente do peso argentino não é o fator mais forte para aquecer a demanda, pois muitos clientes não entendem de imediato esses efeitos.
Leone concorda. “Não é tão rápida essa resposta”, diz.
Antes de viajar
Mesmo com a queda forte do peso argentino, Inhasz recomenda que, antes de decidir viajar, os consumidores tenham cautela. “A nossa moeda também está perdendo valor, é preciso botar isso na conta”, diz a professora.
Em um momento de instabilidade cambial, ela aponta por exemplo o risco de fazer gastos com o cartão de crédito fora do Brasil. Isso porque, mesmo que o turista compre em peso argentino, a cobrança da fatura é feita em dólar. “Corremos o risco de ganhar de um lado e perder de outro”, alerta.
Fonte: G1
UGT - União Geral dos Trabalhadores