23/04/2018
O embargo da comunidade europeia à carne de frango produzida no Brasil mostra mais uma vez a forma de agir do governo norte americano. Existem, evidentemente, várias questões envolvendo o bilionário mercado internacional de produção e comercialização de carne de frango, e que vão muito além do galinheiro ou da operação Carne Fraca, da Polícia Federal.
Ao taxar as importações do aço, o governo americano onera a EU (União Europeia). Para negociar a retirada, e ajustar essas taxações, há o envolvimento de outros interesses, e o comércio de outros produtos, entre eles a carne de frango. Os Estados Unidos estão na ponta mundial da comercialização da carne de frango, e toda essa produção precisa ser desovada em algum mercado. Desde a década dos anos 1970, por questões verdadeiramente sanitárias, a comunidade europeia compra pouco da produção norte-americana, e vem adquirindo carne de frango de outros mercados produtivos, dentre eles o Brasil. Nosso país passou a ser um dos principais fornecedores de carne de frango para os países europeus e asiáticos. Agora com a escalada ao poder de Donald Trump na presidência dos Estados Unidos, as pressões à comunidade europeia vêm se instalando em vários segmentos produtivos. O setor da vez é a avicultura brasileira.
Ficou muito claro para o ministério da Agricultura do Brasil que o embargo à carne de frango produzida aqui não é meramente uma questão sanitária, mas sim de disputas entre grandes produtores e potenciais consumidores mundiais de carne de frango. Mas por outro lado, mostra a incompetência de alguns empresários na manutenção sadia das relações comerciais. Ao serem flagrados pela operação Carne Fraca da Polícia Federal– que detectou um suposto esquema entre laboratórios e frigoríficos para fraudar laudos de testes de qualidade- esses maus empresários estão recebendo o que plantaram. E o que é pior, todo um setor altamente rentável na balança comercial brasileira passou a ser afetado justamente por esses péssimos exemplos empresariais.
O bloqueio europeu à carne de frango brasileira não chega a ser o fim do mundo, como assim o disse o próprio ministro da Agricultura Blairo Maggi. E para reforçar ainda mais a tese das pressões norte-americanas, Maggi disse claramente que o Brasil pode continuar exportando carne de frango para a Europa, “basta pagar imposto de 1.024 euros por tonelada e enviar os mesmos lotes como carne in natura, e a comercialização acontece sem nenhum problema”. Portanto esse alardeado embargo não é uma questão meramente sanitária, mas fruto de interesses muito mais escusos por parte do governo norte americano, que manipula as relações comerciais em vários mercados mundiais.
PARANÁ
Infelizmente para o Paraná os embargos da CE atingem diretamente o setor, em toda a cadeia produtiva. São oito frigoríficos que estão impedidos de exportar para a Europa. As incertezas de quanto tempo levará para que haja uma normatização nas questões comerciais já levou frigoríficos a darem férias coletivas a seus funcionários, e proprietários de granjas reverem seus planos de criação para 2018. Os frigoríficos paranaenses atingidos pelo embargo estão localizados em Cianorte, Mal. Cândido Rondon, Toledo, Cascavel, Cafelândia, Matelândia, Francisco Beltrão e Ponta Grossa. Os gestores dessas unidades de abate e envase terão de aplicar uma engenharia logística, para manter seus funcionários e continuar produzindo. Não é tempo de demitir mão de obra qualificada e treinada. É hora de mostrar maturidade e competência administrativa.
Uma das alternativas está no próprio mercado interno. Segundo números da Cia World Fact Book, o Brasil aparece em terceiro lugar no ranking mundial de consumo de carne de frango, com apenas 44,63 kg de consumo anual per capita, para uma população de mais de 200 milhões de habitantes. A Malásia, com apenas 54,8 milhões de habitantes, é a maior consumidora mundial, com mais de 55 kg per capita/ano, seguida dos Estados Unidos com 47,69 kg per capita/ano. Mas para haver a promoção do consumo de carne de frango internamente, as empresas do setor precisam agilizar laudos que avalizem a qualidade dessa carne e promover campanhas de esclarecimento ao público consumidor.
Dessa forma o Brasil poderá superar esse imbróglio internacional, fortalecendo o mercado interno e mostrando ao governo americano e aos consumidores europeus que a carne de frango produzida aqui tem se enquadra em todas as rigorosas exigências das normas de exportação. Afinal de contas, somos mais de 200 milhões de consumidores. Um mercado cobiçado por empresas do mundo todo!
Clair Spanhol é presidente da Fetracoop e do Sintrascoop
UGT - União Geral dos Trabalhadores