16/04/2018
Em uma ação que consumiu menos de cinco minutos, cerca de 30 militantes sem-teto invadiram nesta segunda (16) o apartamento tríplex atribuído ao ex-presidente Lula e pivô de sua condenação na Lava Jato.
O grupo —que permaneceu no local por duas horas e 15minutos— faz parte do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto), coordenado por Guilherme Boulos, pré-candidato à Presidência pelo PSOL e uma das lideranças sociais mais próximas de Lula.
"É uma denúncia da farsa judicial que levou Lula à prisão. Se o tríplex é dele, então o povo está autorizado a ficar lá. Se não é, precisam explicar por que ele está preso", diz Boulos.
A ação foi acompanhada pela Folha. Cerca de cem pessoas, divididas em 20 carros, chegaram ao edifício Solaris de madrugada para o ato.
Uma parte do grupo, cerca de 30 militantes, pulou as grades de acesso ao prédio e subiu 16 lances de escada. Não foi encontrada nenhuma arma com os manifestantes, segundo a PM.
Ao chegar ao apartamento, após arrombamento da porta, os militantes encontraram uma geladeira, um fogão e um micro-ondas, além de camas.
Eles fixaram bandeiras do movimento na varanda com vista para o mar. Da sacada do prédio, gritam: “Não tem arrego. Ou solta o Lula ou não vai ter sossego”.
Integrante da Frente Povo Sem Medo, da qual o movimento faz parte, Andreia Barbosa afirma que o grupo ficará o tempo que for necessário para fazer uma demonstração de que Lula é inocente. “Se o apartamento é do Lula, ele que peça a integração de posse”, diz Andreia.
Um representante do condomínio bateu na porta, que esta travada por um pedaço de madeira, e perguntou se os militantes tinham ciência de que estavam cometendo um crime. Em resposta, ouviu que só deixarão apartamento com decisão judicial.
Com a chegada da Polícia Militar ao local, o MTST concordou em sair do tríplex. Os militantes deixaram o edifício pelas escadas, seguindo roteiro acertado entre advogados e Polícia Militar.
ALIADO
Boulos esteve ao lado de Lula o tempo todo no Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo, nas horas que antecederam a prisão, e mobilizou integrantes de um acampamento próximo para engrossarem as manifestações em torno do prédio que pediam que o petista não se entregasse.
No dia da prisão, ao discursar em uma missa em homenagem a dona Marisa, Lula chamou Boulos para a frente do caminhão de som e disse que ele tinha "futuro".
Um dia depois, Lurian, a filha de Lula, discursou para integrantes do MTST, agradeceu o apoio e disse que Boulos era como "um filho" para Lula.
'ESTRAGARAM O PORTÃO'
Moradores relataram susto com a invasão no edifício Solaris. "Eles forçaram a entrada, entraram pela garagem. O portão não estava estragado, ficou agora. Foi um susto muito grande", diz Renata Simões, 36.
Elenice Soares Medeiros, 66, disse ter se sentido humilhada e com medo pela invasão. "Lógico que ficamos com medo, todo mundo ficou com medo. Entra cem pessoas dentro de um condomínio para você ver? Tenho 66 anos, o meu coração e a minha pressão foram a mil", disse.
Segundo ela, o grupo passou pelo seu andar até chegar ao tríplex sob investigação, atribuído ao presidente Lula. "Eles foram para a escada, invadiram o condomínio. Senti a gritaria e vi eles invadindo aqui. Portão da garagem quebrou, o portão de acesso. Tivemos medo, eles entraram na nossa casa".
Morador há dois anos, o médico Mauricy Megário, 58, disse que ouviu gritos de que invadiriam outros apartamentos. "Houve muito barulho e algazarra, pensei que estavam quebrando o apartamento. Eu abri a porta porque pensei que fosse uma manutenção", afirmou o médico.
Ele contou que os invasores carregavam bandeiras e que um deles disse que o ato era algo simbólico e que não fariam mal a ninguém. Disse ter se preocupado com a mulher, grávida de 12 semanas. "Minha esposa ficou desesperada".
Segundo outro morador, o aposentado da aeronáutica José Ramón Rodrigues, 67, alguns dos participantes do episódio disseram que queriam fazer uma demonstração relâmpago.
Ele conta que mora no imóvel há cinco ou seis anos e, depois do episódio Lula, sairia do Solaris. "Quando surgiram essas denúncias e problemas, realmente isso virou um mico. Se alguém quiser comprar o meu pela metade do preço eu vendo".
A equipe da PF, que vai investigar a invasão, deixou o prédio por volta das 14h sem falar com a imprensa.
Fonte: Folha de SP
UGT - União Geral dos Trabalhadores