05/03/2018
A Levi Strauss, dona da marca Levi´s, vai recorrer a robôs equipados com lasers para produzir a aparência desgastada e os rasgões estratégicos que os compradores exigem em seus jeans, em uma iniciativa mundial que levará à substituição de seus exército mundial de operários de acabamento, que batem, lixam e até cozinham os jeans produzidos pela empresa, criando estilos diferentes.
A mudança será a maior inovação em sua cadeia de suprimento, que produz 150 milhões de calças jeans a cada ano, em mais de uma década. A empresa anunciou que está começando a instalar uma legião de lasers que, até 2020, espera venham a substituir quase todos os operários envolvidos no trabalho de acabamento —que requer muita mão de obra e pode ser tóxico.
O objetivo é reduzir o desperdício e os custos e encurtar um processo de design e produção cujos ciclos duram mais de um ano e é lento demais para responder às mudanças rápidas nas tendências de moda.
A empresa, de capital fechado, não informou quanto está investindo na iniciativa, ainda que boa parte do custo deva caber aos seus fornecedores em todo o mundo. Mas a reformulação é o mais recente esforço de Chip Bergh, antigo executivo da Procter & Gamble que assumiu a presidência executiva da Levi Strauss em 2011, para modernizar o negócio criado em San Francisco 135 anos atrás.
"Esse é futuro da fabricação de jeans", ele disse.
A adoção dos lasers surge depois de a Levi Strauss ter reportado uma queda de 3% em seu lucro em 2017, ante o ano anterior, para US$ 281 milhões, sobre uma alta de 8% em seu faturamento mundial, para US$ 4,9 bilhões.
Nos últimos anos, a empresa vem enfrentando crescente concorrência e pressão sobre suas margens de lucro, de empresas de moda rápida como a H&M e de novas tendências de moda como o “athleisure” (o uso de roupas esportivas para outras atividades).
Acelerar a produção e ganhar “agilidade” para responder às mudanças na demanda dos consumidores é crucial para que a Levi Strauss se torne mais capaz de competir, dizem executivos da companhia.
Os lasers gravarão padrões digitais nos jeans, queimando uma camada fina de tecido e pigmento, e são capazes de concluir seu trabalho em uma calça jeans em 90 segundos, ante seis a oito minutos se o trabalho for realizado à mão. Esse tipo de sistema está em uso há mais de uma década, por alguns fabricantes de roupas.
De acordo com Bart Sights, vice-presidente de inovação da Levi Strauss, o objetivo é ter em todo o mundo estoques formados por apenas três modelos básicos de jeans, em tons claros, médios e escuros, que poderão ser personalizados rapidamente com mais de mil tipos de acabamento, em centrais posicionadas estrategicamente e dotadas de lasers para realizar o acabamento nos jeans pedidos pelos atacadistas.
Uma das primeiras linhas de acabamento a laser da Levi Strauss funciona em um centro de distribuição em Nevada. Os estilistas da empresa em San Francisco enviam arquivos digitais à central, e os lasers começam a produzir jeans com acabamentos personalizados em questão de minutos; os produtos podem ser entregues aos compradores próximos em questão de horas.
“Isso nos aproxima mais de fabricar o que vendemos”, disse Sights.
Os clientes poderão vir a utilizar os mesmos recursos para personalizar jeans, no futuro, nas lojas ou possivelmente pelo envio de instruções a centrais de laser próximas, via smartphone. “É fácil imaginar um sistema como esse. Quando explicamos a ideia, as pessoas logo visualizam”, disse Sights.
Os lasers são apenas a mais recente ilustração quanto ao papel da automação na indústria do século 21. Também indicam a concorrência que os operários de países em desenvolvimento como Bangladesh e México, empregados em setores que usam mão de obra em larga escala, como o têxtil, passarão a enfrentar.
De acordo com a Organização Internacional do Trabalho, mais de 40 milhões de pessoas estão empregadas na indústria do vestuário só na Ásia.
Fonte: Folha de SP
UGT - União Geral dos Trabalhadores