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Brasil ainda tem abertura incipiente ao mercado global


26/01/2018

Os presidentes do Brasil e da Argentina dedicaram boa parte de seus discursos no Fórum Mundial de Davos a assegurar à plateia de empresários e investidores que seus países agora estão abertos ao comércio global. Mas para o diretor-geral da Organização Mundial do Comércio, Roberto Azevêdo, essa abertura é apenas incipiente, e as eleições no Brasil colocam uma incógnita sobre ela.

 

"O que ouço tanto do Brasil quanto da Argentina é que há disposição de interagir mais com a economia mundial, de estar mais integrado à economia mundial, seja importando ou exportando, e isso é uma boa notícia. Quanto a quão longe eles foram, acho que estamos nos estágios iniciais" respondeu ao ser indagado pela Folha sobre as apresentações de Michel Temer e Mauricio Macri.

 

Temer, que substituiu Dilma Rousseff após o impeachment em 2016, e Macri, que sucedeu Cristina Kirchner nas eleições de 2015, assumiram com agendas e discursos liberais, e estão promovendo reformas nesse sentido.

 

Ainda assim, tanto Brasil quanto Argentina são países historicamente fechados em termos de comércio global, independentemente de qual seja o governo: o protecionismo vem tanto dos políticos quanto, em muitos casos, da cultura empresarial local.

 

"Não sabemos ainda onde isso [a abertura] vai dar. Temos eleições vindo por aí no Brasil. Isso e uma incógnita em termos do rumo que as políticas tomarão, acho que o mundo está esperando para ver para onde o Brasil, a Argentina e a América do Sul estão indo, e acho cedo para saber que frutos colheremos dessa disposição política por maior abertura."

 

GUERRA COMERCIAL

 

Azevêdo falou do ímpeto protecionista crescente, mas disse que prognósticos para uma "guerra comercial", especialmente envolvendo os EUA, não se materializaram.

 

Mas isso não significa que tudo esteja bem. Ainda há pressão protecionista, é preciso ser vigilante. "Espero que possamos continuar em um caminho positivo – medidas restritivas sempre estiveram aí, essas coisas vão continuar existindo, mas é totalmente diferente de tomar a estrada unilateral, esquecer o que você combinou com os demais" afirmou, ao ser indagado sobre os EUA.

 

O brasileiro disse ainda que não conseguiu avançar em um dialogo com os EUA para resolver um impasse no corpo de apelação da OMC, que arbitra disputas comerciais entre países. Das sete vagas, apenas quatro estão preenchidas, e mais uma deve ficar vazia com uma aposentadoria iminente. E a demanda cresce. "Se continuarmos assim o sistema será prejudicado, porque não teremos membros o suficiente no corpo de apelação para lidar os apelos que estarão entrando." 


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