22/12/2008
Canindé Pegado
Nesta segunda-feira (22), a apenas três dias do Natal, a data máxima da cristandade, o movimento sindical brasileiro tem um triste acontecimento para relembrar: 20 anos do assassinato do líder dos seringueiros, Chico Mendes. Acho que poderia até afirmar que, da mesma forma que Tiradentes morreu pela independência do Brasil e Zumbi dos Palmares lutou e morreu pela libertação dos escravos, Francisco Alves Mendes Filho deu sua vida na luta pela defesa dos direitos dos trabalhadores e na preservação da floresta amazônica. Entramos numa semana de festas onde os sinos tocam anunciando mais um aniversário do nascimento de outro líder, também morto por pregar o amor e a paz entre os seres humanos.
Nascido em Xapuri, importante Município na região sudoeste do Acre, na manhã daquela sexta-feira, do dia 15 de dezembro de 1944, Chico Mendes passou a trabalhar na região da Amazônia desde criança, ajudando seu pai na lida do campo. Iniciava ali os primeiros contatos diretos com os seringueiros e conhecer de perto os problemas de cada um deles. Já adulto iniciou um movimento, organizando os seringueiros para lutarem em defesa pela posse da terra. Com isso conseguiu fundar o Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Xapuri em 1977 chegando a ser seu presidente. No ano seguinte Chico Mendes começou a receber ameaças dos fazendeiros locais. Na década de 80 durante a vigência da ditadura militar, foi enquadrado na Lei de Segurança Nacional.
A violência dos militares que comandavam a Nação não intimidou o líder trabalhista cujas ações ganhavam repercussão além das fronteiras. Tanto que uma comissão da ONU (Organização das Nações Unidas) esteve com ele em Xapuri (1987) onde foi informada de que empresas financiadas pelo BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) estavam usando o dinheiro para devastar a floresta amazônica. As denúncias chegaram ao Senado dos Estados Unidos e o financiamento foi suspenso. Esse comportamento do líder dos seringueiros não agradou a alguns setores empresariais e, lamentavelmente, na quinta-feira, do dia 22 de dezembro de 1988, Chico Mendes foi brutalmente assassinado quando chegava em sua casa. Deixou a esposa Ilzamar e o casal de filhos Sandino e Elenira.
Hoje, decorridas duas décadas desse ato de covardia, a situação continua insustentável naquela região. Os trabalhadores rurais são renegados a segundo plano. Sofrem perseguição e discriminação. Não existe, por parte do Governo, uma política que garanta renda para o sustento de uma família de seringueiros, para viver com dignidade, exclusivamente da produção extrativista, como denuncia o Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Xapuri.
Faço as citações históricas acima para fortalecer a minha linha de raciocínio a respeito desse episódio que tirou a vida de um trabalhador. A injustiça social continua campeando naquela região atacando de frente famílias de trabalhadores e permitindo a devastação impiedosamente nossa floresta.
(Canindé Pegado é Secretário Geral da União Geral dos Trabalhadores)
UGT - União Geral dos Trabalhadores