12/05/2017
Relatório do Ipea, FJP e Pnud analisa a influência de etnia, gênero e situação de domicílio no IDHM do país. Mesmo com mais escolaridade, mulheres têm renda 28% inferior à dos homens.
Em 10 anos, as desigualdades sociais relacionadas a etnia, gênero e situação de domicílio (urbano ou rural) diminuíram no país. Apesar disso, o Brasil ainda apresenta muitos contrastes entre a sua população – a exemplo dos negros, cuja renda média ainda é metade da dos brancos. É o que aponta um estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) com a Fundação João Pinheiro (FJP) e com o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), divulgado nesta quarta-feira (10).
O estudo analisa o Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM) e outros 170 dados socioeconômicos por cor, sexo e situação de domicílio dos anos censitários de 2000 e 2010 para mostrar como a vida dos brasileiros mudou ao longo da década.
Os dados mostram melhores resultados para brancos, para homens e para a população urbana. No Brasil, somente em 2010 o IDHM dos negros se aproximou ao índice dos brancos medido dez anos antes. Ou seja, o IDHM dos negros levou 10 anos para equiparar-se ao IDHM dos brancos – que seguiu avançando e ficou 12,6% superior ao dos negros em 2010.
Em relação à diferença de ganhos entre brancos e negros, em 2010, a renda domiciliar per capita média da população branca era mais que o dobro da verificada para a população negra: R$ 1.097,00 ante R$ 508,90.
A renda das mulheres também era desigual: mesmo com melhores níveis educacionais, a renda média delas era 28% inferior à dos homens. Já entre o campo e a cidade, a renda domiciliar per capita média da população urbana era quase três vezes maior que a da população rural.
Segundo o estudo, porém, houve uma redução das desigualdades e avanços em todos os indicadores para o período. O relatório destaca, por exemplo, que a diferença entre o IDHM de negros e brancos reduziu-se quase pela metade no período de 2000 a 2010.
A diferença entre o menor indicador (IDHM dos negros) e o maior indicador (IDHM dos brancos) passou de 0,145 em 2000, para 0,098 em 2010. Segundo o relatório, isso mostra que a melhora no IDHM para o período de dez anos foi maior para os grupos mais vulneráveis, que apresentavam os indicadores mais baixos, o que pode ter contribuído para a diminuição da desigualdade no país.
No período analisado, a taxa média de crescimento anual do IDHM da população negra foi de 2,5%, apresentando o melhor desempenho, ante 1,4% dos brancos, 1,9% para mulheres, e 1,8% para os homens.
Para a população negra, os níveis educacionais foram os que mais contribuíram para o avanço, com um crescimento médio anual de 4,9%. A educação também foi a dimensão que mais avançou no IDHM da população branca, das mulheres e dos homens, mas com taxas médias de crescimento anual inferiores – 2,7%, 3,3% e 3,6%, respectivamente.
O relatório destaca que o país obteve grandes avanços em relação à longevidade, à educação e à renda a partir da adoção de estratégias inclusivas das últimas décadas, como o aumento progressivo no valor do salário mínimo, as transferências de renda condicionadas, as políticas de ações afirmativas e os investimentos na saúde e na educação. Mas deixa claro que “o país ainda apresenta grandes desigualdades internas e regionais”, como as já citadas.
“É necessário que se continue, progressivamente, a promover políticas abrangentes adaptadas às populações que sofrem discriminações e exclusões históricas, evitando retrocessos e garantindo que ninguém será deixado para trás”, afirma o relatório.
Veja abaixo os principais destaques do relatório por etnia, sexo e condição de domicílio.
Etnia
O IDHM da população negra foi o que cresceu mais rapidamente entre 2000 e 2010, com uma taxa média de crescimento anual de 2,5%, ante 1,4% dos brancos, 1,9% para mulheres e 1,8% para homens
Apenas em 2010 o IDHM dos negros se equiparou ao IDHM dos brancos de 2000. Apesar disso, a diferença entre os dois caiu. Em 2000, o IDHM da população branca era 27,1% superior ao IDHM da população negra; já em 2010, o percentual caiu para 14,4%
Para a população negra, a dimensão "educação" foi a que mais contribuiu para o avanço nos dez anos analisados, com um crescimento médio anual de 4,9%
Em 2010, a renda domiciliar per capita média da população branca era mais que o dobro da população negra: R$ 1.097,00 ante R$ 508,90
Em alguns estados, como o Rio de Janeiro, a renda domiciliar per capita média da população branca é mais de duas vezes maior que a da negra, R$ 1.445,90 ante R$ 667,30
Quanto à escolaridade da população adulta, 62% da população branca com mais de 18 anos possuía o fundamental completo, ante 47% da população negra
A diferença na esperança de vida ao nascer entre brancos e negros era de 2 anos, respectivamente 75,3 anos e 73,2 anos
As maiores diferenças percentuais entre os índices da população branca e da população negra, em 2010, foram observadas no Rio Grande do Sul (13,9%), Maranhão (13,9%) e Rio de Janeiro (13,4%). Por outro lado, as menores diferenças foram registradas no Amapá (8,2%), em Rondônia (8,5%) e em Sergipe (8,6%)
Sexo
Em 2010, a mulher apresentou renda média no trabalho de R$ 1.059,30, 28% inferior à renda média do trabalho dos homens, de R$ 1.470,73
Em contrapartida, as mulheres registraram estudar mais: 56,7% das mulheres com mais de 18 anos têm o ensino fundamental completo, ante 53% dos homens
Na esperança de vida ao nascer, as mulheres vivem 7,5 anos a mais em média que os homens – 77,3 anos e 69,8 anos, respectivamente
Considerando os estados, a maior diferença existente na renda foi encontrada em Santa Catarina, onde a renda média no trabalho dos homens (R$ 1.655,74) era 34,8% superior à renda média no trabalho das mulheres (R$ 1.079,82)
Em relação a educação, no Piauí, 46,5% de mulheres acima de 18 anos de idade tinham o ensino fundamental completo, ao passo que apenas 36,8% dos homens tinham esse nível
Considerando os 111 maiores municípios do país, os homens apresentaram IDHM muito alto (acima de 0,800) em 32 cidades, enquanto as mulheres apresentaram em apenas 6 municípios
Situação de domicílio
A renda domiciliar per capita média da população urbana é quase três vezes maior que a da população rural, R$ 882,6 e R$ 312,7, respectivamente
Quanto à escolaridade da população adulta, 60% da população urbana com mais de 18 anos possui o fundamental completo, ante 26,5% da população rural
Na esperança de vida ao nascer, a população urbana vive em média 3 anos a mais que a população rural – 74,5 anos a 71,5 anos, respectivamente
A população rural e urbana no Brasil apresenta a maior desigualdade no IDHM entre os grupos analisados. Em 2010, enquanto o IDHM rural para o país esteve na faixa de baixo desenvolvimento humano (0,586), o IDHM urbano era de 0,750 (alto desenvolvimento humano), ou seja, 28% mais elevado que o primeiro
Em relação aos estados, as maiores diferenças percentuais entre o IDHM da população urbana e da rural, em 2010, foram observadas no Amazonas, onde o IDHM urbano era 47,5% superior ao IDHM rural. Em seguida, estavam o Acre (40,3%) e Roraima (37%)
O estado do Amazonas também apresentou as maiores diferenças entre urbano e rural nas dimensões renda e educação. Em 2010, a renda domiciliar per capita média da população rural era 4,5 vezes menor que a da urbana – R$ 141,8 e R$ 644,5, respectivamente. Somente 22% da população rural com mais de 18 anos possuía o ensino fundamental completo, ante 62% da população urbana.
Para a Secretária da Diversidade Humana da UGT, Ana Cristina dos Santos Duarte, “a pesquisa aponta que mesmo se passando 129 anos da abolição da escravatura, ainda resta muito a se avançar para que este desequilíbrio chegue ao fim. Por isso, continuamos nossa luta contra a Escravidão Moderna. Nenhum Direito a menos para a classe Trabalhadora”, finalizou a secretária.
Fonte: G1
UGT - União Geral dos Trabalhadores