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No Ano da França no Brasil, país barra mais brasileiros

Total de barrados subiu 55% na comparação do 1º bimestre de 2008 com o de 2009

A principal causa, segundo a diplomacia francesa, foi a falta de seguro de saúde para viagem internacional e de outros documentos"

DANIEL BERGAMASCO

DA REPORTAGEM LOCAL

No Ano da França no Brasil, o país europeu está barrando mais brasileiros que no ano passado, revelam números do próprio Consulado Geral da França em São Paulo.

Na comparação entre os primeiros bimestres deste ano e do ano passado, o crescimento de brasileiros que não conseguiram nem passar do aeroporto foi de 55% -de 177 para 274.

Segundo a diplomacia francesa, a principal causa de recusas foi a falta de "documentos" como seguro de saúde para viagem internacional e comprovante de reserva de hotel.

Em geral, o viajante tem de apresentá-los quando é interrogado em sala reservada nos aeroportos, o que acontece com quem desperta desconfiança dos agentes de imigração.

Foi o que aconteceu com a professora universitária Solange França, barrada em Paris na Sexta-feira Santa. "Informei que não havia feito seguro, mas apresentei cartão de plano de saúde. Também mostrei contracheque do Governo do Estado da Bahia, que conta que sou professora da Universidade Estadual de Santa Cruz", diz ela, que descreve o confinamento em uma sala "pouco limpa" e momentos de "medo" e "desrespeito" pelos agentes, com ela e outros 16 brasileiros "devolvidos".

Assim como ocorreu com Solange, plano de saúde não costuma ser aceito como substituto de seguro de viagem -que, na agência de intercâmbio STB, por exemplo, custa US$ 131 para o plano básico de um mês.

Para quem se hospeda na casa de amigos, exige-se que os anfitriões registrem carta-convite na prefeitura local e a enviem ao Brasil pelo correio.

As recomendações valem para outras nacionalidades e o país ressalta a boa relação com o Brasil, celebrada no Ano da França no Brasil, série de eventos culturais e institucionais iniciada hoje.

Deportações

Nos últimos três anos, as deportações de brasileiros mais que dobraram -de 285 em 2006, saltaram para 674 em 2008 (135%). A tendência é de alta em 2009. Houve 25% mais deportados que no primeiro bimestre de 2008.

Os números mais recentes de barrados no aeroporto também chamam a atenção e têm relação com o temor de que muitos turistas queiram, na verdade, morar ilegalmente no país. O consulado não informou dados de inadmitidos em março de 2008, mas foram 174 em março de 2009, mês de baixa temporada para o turismo no país.

O Consulado Geral do Brasil em Paris diz que os números são ainda mais altos. Só pelos registros da TAM, afirma, foram 206 em março -ante 67 de janeiro e 116 de fevereiro.

Para se obter o número completo, seria preciso somar os recusados em voos da Air France, que também voa direto do Brasil a Paris. À Folha as empresas não forneceram dados.

França nega preconceito contra brasileiros

Consulado Geral em SP diz que número de inadmissões deve acompanhar o ritmo de pessoas que tentam entrar ilegalmente no país

No ano passado, brasileiros foram o terceiro povo mais recusado ao desembarcar em aeroportos franceses, atrás de chineses e russos

DA REPORTAGEM LOCAL

Apesar da escalada de brasileiros barrados ou deportados pela França, o país afirma que não existe preconceito.

Segundo o Consulado Geral francês em São Paulo, o número total de recusas tende a acompanhar o volume de pessoas que tentam imigrar ilegalmente. O órgão cita a oscilação dos dados nos últimos anos.

Foram 1.040 brasileiros recusados em aeroportos franceses em 2006, 1.498 em 2007 e 1.145 em 2008. Contudo, na hipótese de a tendência de 55% de alta no primeiro bimestre deste ano se manter, os recusados se aproximariam de 1.800 até o final do ano.

Esse crescimento chama a atenção da diplomacia brasileira na França. "As denegações [termo usado quando o viajante é impedido de entrar no país] no dia a dia têm variado muito, mas no geral há aumento", diz Sergio Mauricio da Costa Palazzo, cônsul-geral adjunto do Brasil em Paris. "Há dias em que temos uma pessoa, outras em que são dez, 12 ou 15."

Em outra comparação entre 2006 e 2008, os brasileiros subiram no ranking de povos mais recusados ao desembarcar no país. De quarto lugar, passaram para terceiro e estão atrás apenas dos chineses, os "campeões", e dos russos.

Por outro lado, o aquecimento da economia brasileira nos últimos anos impulsionou as viagens até lá. No ano passado, a França recebeu 450 mil brasileiros, 10% a mais que em 2007.

Cerco

O cerco aos imigrantes em situação irregular estava prometido no discurso de campanha do presidente Nicolas Sarkozy, que assumiu o governo em 2007. Ele criou o Ministério de Imigração e Identidade Nacional, que tem entre as missões preservar a nação de ilegais.

O debate sobre prejuízos causados por estrangeiros sem autorização para estar no país cresce com a crise econômica, que inclui a França nas ondas de demissões em massa.

(DANIEL BERGAMASCO)"