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Balanço de 2016 e perspectivas


04/01/2017

Nove entre dez brasileiros acreditam que devem a Deus seu sucesso financeiro. Em caso de insucesso, deve-se contabilizar como “falta de fé”. Isso mesmo entre os não-religiosos. Quanto menor a renda e o grau de educação maior é a fé na intervenção divina. Essa é uma das conclusões da pesquisa da PEW Research neste fim de ano, por uma amostra de toda a população brasileira.

 

Nada mais convencional, em termos de pesquisas que correlacionam graus de educação e renda com a fé religiosa das pessoas. Todavia, chama a atenção a enorme adesão a esta crença, por parte de quase toda a população representada pela amostra. Um caso extremo no cenário internacional, como tem também atestado a Pesquisa Mundial sobre Valores (World Values Survey), um projeto global de estudos comparados sobre valores aceitos por cerca de quase 200 países, em baterias bianuais de investigação.

 

O Governo Temer anuncia, por seu Ministro de Turismo, que o setor teve leve crescimento em 2016, ao contrário de todos os outros setores da economia. Todavia, a cidade de Miami recebe, mensalmente, o equivalente aos turistas que visitam o Brasil anualmente. Ilustração de uma baixíssima produtividade: ainda que os recursos naturais do Brasil, atraentes ao turismo internacional, sejam infinitamente superiores às praias da Flórida, USA. Miami é puramente um “espaço construído”, cujos atrativos estão nos serviços e nos preços relativos sedutores. Não conta com nenhum recurso extra, a não ser pantanais ao sul: sendo ainda assolada por constantes intempéries, ciclones, etc.

 

Os deputados federais, Rogério Rosso e Miro Teixeira, buscam apoio ao projeto de tornar o Congresso Nacional atual uma Assembleia Nacional Constituinte, unificando Senado e Câmara Federal de Deputados, para chegar em 2018 com uma reforma ampla dos marcos legais do País. Ocorre que o atual Congresso Nacional não foi eleito com esta finalidade, além de – provavelmente- ser formado pela pior representação política de toda a história brasileira. Ou seja, uma iniciativa duplamente exposta à crítica.

 

Além disso, o ano de 2016 ceifou boa parte de lideranças políticas, parlamentares e extra-parlamentares, conduzindo-as coercitivamente para prisões e mantendo aberto o processo de “delações premiadas”, que ainda pode ter uma extensão inimaginável. Fatos que põem todos os quadros politicamente representativos, e seus respectivos partidos, sob tensão e vigília permanentes.

 

Em escala internacional, além da surpreendente eleição de Donald Trump nos Estados Unidos, há o desdobramento dramático do referendo britânico sobre sua permanência na União Europeia. O ex-Primeiro Ministro, David Cameron, agora ao final de 2016 vem a público para confessar sua estratégia assumidamente equivocada: buscava reafirmar o peso da Grã- Bretanha na Comunidade Europeia, com novas regras e critérios que fortaleceriam suas posições. Ao contrário, emocionalmente condicionada contra as constantes e crescentes ondas de imigrantes e contra a relativa decadência competitiva da economia britânica especialmente frente a Alemanha, a população surpreendeu, votando a favor do BREXIT  e derrubando o governo conservador de Cameron.

 

Isso ilustra que erros políticos de grande monta, seja na avaliação da realidade, seja na formulação de alternativas historicamente possíveis, não é um patrimônio exclusivo dos regimes presidencialistas. Regimes Parlamentaristas, onde é suposto um grau mais alto de debate e co-responsabilidade na condução do Estado, com peso diferenciado para o Parlamento e  dos Partidos Políticos, também aceitam e administram erros estratégicos de condução política e econômica, levando as verdadeiras marchas rumo à insensatez. As perdas econômicas acarretam, desde outubro, pesados prejuízos ao Reino Unido, a começar pelo deslocamento de agentes financeiros (bancos e fundos de investimento) para outros países europeus. Isso, certamente, descaracterizará o papel central exercido por Londres no contexto global.

 

Estes fatos – nacionais e internacionais – ilustram as tendências cruciais do ano que ora termina: grande instabilidade político-institucional, comportamento imprevisível das massas quando consultadas, cenários inseguros sobre o equilíbrio militar e econômico mundial, tentativas de “resolver” as crises e impasses ocasionais por meio de improvisações, e assim por diante.

 

No Brasil, além das ilustrações sobre a relação entre fé religiosa e a crença de que os sucessos econômicos individuais e familiares dependem de Deus, temos o exemplo (mau) da indústria do turismo no País, com baixa produtividade e pobre planejamento estratégico, temos a Administração Temer produzindo reformas constitucionais por meio de Medidas Provisórias e anunciando programas pontuais (crédito rotativo, uso do FGTS para pagamento de dívidas assumidas, etc.) para indicar à população que há um governo instalado e na direção da desestatização acelerada da economia e dos controles nas relações entre trabalhadores e o capital.

 

Na medida em que pesa sobre a cabeça do Governo a ameaça da cassação da chapa Dilma-Temer de 2014, não é possível cercear movimentos internos no Estado em favor de eleições indiretas em 2017, como é frequentemente invocado por líderes e partidos políticos, situacionistas ou de oposição. O que também pode explicar a ansiedade do Presidente em anunciar e justificar medidas de natureza econômica, com muita frequência.

 

De outro lado, a economia projetada para, inicialmente, crescer 1,3% em 2017, já está sendo balizada em  0,8% pelo Banco Central. O que é um mau sinalizador e aponta para o persistente desalento do mercado para fazer novos investimentos produtivos. Naturalmente, como consequência, o nível de desemprego dificilmente sairá dos atuais 12 milhões da população economicamente ativa. Para isso colaboram os atuais impasses da reforma trabalhista, lentamente sendo de fato implementada por vias congressuais e /ou judiciárias; bem como as expectativas da reforma previdenciária, a duras penas adiada para 2017, graças à ação unificada das Centrais Sindicais.

 

Há um fato, apesar de tudo, extremamente positivo a ser ressaltado, como adendo à nossa trepidante cultura política nacional : dados desconhecidos sobre a gestão do Estado têm sido revelados, processos de decisão estão sendo devidamente escrutinados e debatidos, responsabilidades têm sido apuradas e cobradas.

 

Não é um fenômeno meramente brasileiro, como se pode verificar nos últimos dias nos Estados Unidos, quando os grandes bancos envolvidos na Crise de 2008 foram multados em quantias astronômicas pelo sistema judiciário norte-americano. Quantias estas muitas vezes superiores às multas e penalizações às recebidas pela Odebrecht; justamente a maior implicada no processo do Lava Jato.

 

O ano de 2017 será, provavelmente, tão trepidante e causador de mudanças, como foi 2016.

 

Benício Schmidt – Colaborador do IAE/UGT


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