07/07/2008
Mortes mancham imagem da Santa Casa
Edição de 29/06/2008
Crise
No passado, os prêmios. No presente, doze bebês mortos em três dias.
Durante muitos anos nascer, em Belém, significava o mesmo que nascer na Maternidade da Santa Casa de Misericórdia do Pará, instituição que se confunde com a própria história da fundação da capital paraense, no século XVII. A Irmandade da Santa Casa de Misericórdia do Pará surgiu em 24 de fevereiro de 1650, 34 anos após a fundação de Belém, ocorrida em 12 de janeiro de 1616. O prédio definitivo foi inaugurado há 108 anos, e, nesse tempo, passou por inúmeras adaptações para receber os avanços tecnológicos. Na década de 80 a instituição viveu em estado falimentar, mas deu a volta por cima e voltou a ser referência materno-infantil no Pará. Entre 1998 e 2005, conquistou 13 prêmios em âmbitos nacional e internacional, entre os quais o de ser o primeiro 'Hospital Amigo da Criança' do Pará, em 1998, que é concedido pelo Ministério da Saúde em parceria com o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef). Em maio de 2006, O LIBERAL produziu uma série de reportagens sobre a trajetória exitosa da Santa Casa de Misericórdia do Pará. Hoje, as notícias são trágicas, com saldo de doze bebês mortos em um único fim de semana na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) Neonatal, a mesma que o Instituto Criança Vida ajudou a reformar em 2001.
JORNAL AMAZONIA
Número de mortes é maior
Edição de 08/07/2008
Dados de cartório registram que 48 bebês morreram na Santa casa em apenas 16 dias. No ano, foram 230.
Quarenta e cinco bebês morreram em junho na Fundação Santa Casa de Misericórdia do Pará, segundo o cartório do 2º Ofício de Registro, que atende diretamente com um posto avançado as famílias carentes que procuram o hospital. A soma desses 45 óbitos com as 3 mortes já confirmadas em julho pelo cartório alcança a marca de 48 em apenas 16 dias. O número total de mortes do período de janeiro até ontem chega a 230 bebês.
O número corresponde às certidões de óbito expedidas no mês passado pela unidade cartorária da instituição e significa que quase 20% dos bebês que deveriam nascer no hospital, acabaram morrendo ou durante ou depois do parto. O percentual máximo de mortes considerado aceitável pelo Ministério da Saúde é até 14%.
Mas o número de mortes pode ser ainda maior. Tudo porque nem todas as famílias recorrem ao serviço cartorário gratuito do posto avançado. Algumas preferem fazer o registro fora da unidade. Mas a maioria absoluta, cerca de 84%, faz a opção pelo serviço ali mesmo. Tanto que o Cartório do 2º Ofício registra, em média, o nascimento de 300 crianças todos os meses.
O número de bebês mortos na Santa Casa vem aumentando desde janeiro deste ano, segundo o relatório do cartório. Em janeiro, 25 óbitos, sendo que 12 de recém-nascidos e 13 de natimortos. Em fevereiro, o número saltou para 38 (10 recém-nascidos e 28 natimortos)
em março, mais 35, o que correspondeu a 18 recém-nascidos e 17 natimortos
em abril, o número voltou a subir, com 40 no total. Já em maio, segundo o cartório, 43 bebês morreram, dos quais 19 recém-nascidos e 24 natimortos.
O fato é que, em janeiro comparado a junho, o número de mortes entre os bebês da Santa Casa praticamente dobrou. Saltou de 25 para 45, o que quer dizer um aumento real de 80% no período de seis meses. O sinal de que as coisas não estavam indo bem na maternidade começou a ser dado em fevereiro, quando o número de mortes cresceu, em relação a janeiro, nada menos do que 52%, saindo de 25 óbitos para 38. Em abril, o crescimento já foi de 60% em comparação a janeiro. E, em maio, novo incremento: 72% a mais de bebês mortos do que no início de 2008.
UGT - União Geral dos Trabalhadores