15/04/2016
Funcionários que trabalham na rede americana de fast food McDonald's fizeram protestos ontem (14), na região da Avenida Paulista, exigindo respeito aos direitos trabalhistas brasileiros. Os manifestantes denunciam acúmulo de função, falta de equipamentos de proteção individual, assédio moral e salários inferiores ao mínimo.
A concentração do protesto começou às 10h, no vão livre do Masp, e seguiu em passeata, às 11h, em direção à Praça Ramos de Azevedo, onde há uma loja do McDonald's. No Brasil, a campanha #SemDireitosNãoéLegal foi marcada para ocorrer em vários estados, integrando a ação em vários países.
O ex-funcionário do McDonald's Lucas da Cruz Marques, 20 anos, contou que trabalhou como atendente da madrugada na empresa e que, apesar da função, acumulava outras atividades como recebimento de cargas e manuseio de produtos químicos, muitas vezes sem equipamento de proteção. "Ficava até duas horas numa câmara fria, usando só um jaleco", disse.
O intervalo intra jornada também não era respeitado, segundo o ex-funcionário. "A gente tinha que comer um lanche sem cumprir uma hora de almoço, eram 15 minutos. Mas batia a marcação como se tivesse descansado por uma hora", disse ele. O salário que Lucas recebia era de R$ 900, com adicional noturno, mas ele lembra de colegas que trabalhavam de manhã e à tarde que recebiam apenas R$ 400.
Rafael Costa da Silva, 27 anos, trabalhou por 5 anos no McDonald's, sendo promovido até o cargo de gerente. Ele conta que ficou doente em razão do desrespeito às normas trabalhistas. "Quando fazia o fechamento, mexia na chapa quente, fazia troca de óleo, sem o equipamento necessário. As botas não tinham uma limpeza correta e escorregavam. O casaco da câmara fria, de menos 21 graus, fedia. O gerente me pedia para entrar na câmara, não tinha tempo para pôr o casaco, eu colocava só um jaleco quente da chapa e entrava. Tive princípio de pneumonia", relatou.
Um gerente que trabalha no McDonald's há sete anos e preferiu não se identificar, por temer retaliações, também falou sobre a existência de abusos. Mesmo sendo gerente, ele precisa, muitas vezes, trabalhar com a chapa fazendo os lanches, já que há falta de empregados. "Fiquei doente várias vezes, sofri várias queimaduras. E o nosso salário varia, eu ganho R$ 1,7 mil, às vezes vem R$ 200 a menos, não sabemos o porquê. Tem atraso de pagamento das férias. E não cumpro uma hora de almoço", disse.
Josimar Andrade, diretor da União Geral dos Trabalhadores, conta que o protesto é coordenado pelo Sindicato dos Trabalhadores em Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares de São Paulo (Sinthoresp). "Estamos contra a política de exploração do McDonalds dentro de suas lojas, é um dia de ação global. Nos Estados Unidos, na matriz, várias cidades, estados americanos, têm protestos e greves", afirmou.
Outro lado
Através de nota, a empresa McDonald’s deu a sua versão para os fatos. Afirma que "respeita manifestações de cidadãos e sindicais e esclarece que os 35 mil funcionários da empresa são representados por 80 sindicatos em todo o país, conforme orientação do Ministério do Trabalho. Especificamente na cidade de São Paulo, o sindicato em questão, que organiza as manifestações com o amparo de outras entidades, não possui legitimidade para representar os trabalhadores do setor, conforme decisões recentes no Tribunal Superior do Trabalho (TST). Trata-se de uma disputa sindical, que já dura quase 20 anos, a respeito da representatividade do setor, e que utiliza o McDonald’s como bandeira para ganhar visibilidade. As manifestações de hoje simbolizam mais um capítulo desta batalha entre sindicatos e não tem adesão de funcionários da empresa."
A UGT repudia qualquer tipo de abuso aos trabalhadores e continuará na luta para que os direitos dos companheiros do McDonald's sejam garantidos e preservados. Qualidade de vida começa no trabalho, com respeito à CLT e ao cidadão, sendo esta a nossa principal bandeira.
Fonte: Rede Brasil Atual, com informações da redação
Fotos: Fábio Mendes
UGT - União Geral dos Trabalhadores