24/03/2016
"Quem nasceu no interior da Bahia aprende desde cedo que, no banho, na hora de passar o sabonete, tem que fechar a torneira", explica o pedreiro Cosme dos Santos, 64, que nasceu em Santana (a 831 km de Salvador) e hoje mora na zona norte de São Paulo.
"O problema é ensinar para os mais novos, o filho mais novo e os netos que gostam de banho demorado", conta.
Apesar da resistência, a família do pedreiro mudou hábitos e passou a tomar banhos mais curtos desde o início da grave crise da água em São Paulo, em 2014.
"A gente sabe que é melhor economizar do que um dia ficar sem água para higiene e para cozinhar", explica. A família de Cosme é um retrato dos resultados de uma nova pesquisa da Kantar Ibope Mídia sobre o tema.
Os dados mostram que, diante da rotina de falta de água e da expectativa de colapso dos reservatórios, o paulistano diminuiu em quase 10% o número de seus banhos semanais.
Para o instituto, que compilou diferentes pesquisas, no início de 2014, quando a seca no Sudeste começava a aparecer, o paulistano tomava 13,8 banhos por semana. Em meados de 2015, quando milhares de pessoas já ficavam diariamente sem água em São Paulo, o índice semanal de banhos caiu para 12,5.
A redução do número de banhos também ocorreu no cenário brasileiro, com a queda de 15,7 para 13,8 banhos semanais. Para efeito de comparação, na França, esse índice é de 7,4 banhos por semana e na Itália, de 6.
Segundo diferentes pesquisas, o Brasil é o campeão mundial de banhos –com média de quase dois ao dia. Outra mudança dos hábitos é que houve uma diminuição do número de banhos longos, substituídos por chuveiradas mais curtas, como na família de Cosme.
No início da crise, em 2014, 41% dos brasileiros tomavam banhos longos (com mais de 15 minutos) e 27% tomavam banhos curtos (com menos de 5 minutos).
Com o agravamento da seca, há uma mudança nesse padrão. No meio de 2015, o cenário já é outro. A predileção por banhos longos despencou e passou a ser opção de 27% de brasileiros. Já os banhos curtos tiveram uma alta e chegaram a 33%.
O ápice dos banhos curtos coincide com o início de 2015, justamente quando o Sudeste viu seus reservatórios nos níveis mais baixos. Naquela época, 38% dos brasileiros tomavam banhos curtos.
Os dados foram calculados a partir de uma amostra de 965 casas que representam o universo do país. A margem de erro de 1 ponto percentual para mais ou para menos.
Entre os impactos desta mudança de hábitos está a redução do consumo de produtos de higiene atrelados ao banho, principalmente o shampoo e condicionador.
"Isso não significa que o brasileiro está mais descuidado com a higiene pessoal. Mas há uma tendência de um uso mais racional. A pessoa pensa: 'Será que eu preciso lavar o cabelo hoje?'", afirma Jacqueline Lafloufa, porta-voz do instituto de pesquisa.
Outro efeito é o aumento do consumo de desodorante, principalmente os aerossóis.
Fonte: Folha de São Paulo
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