11/03/2016
As charretes para passeios turísticos em Campos do Jordão (a 181 km de São Paulo) estão na mira de defensores dos direitos dos animais.
A proibição da atividade é tema da Câmara Municipal e tem o apoio de integrantes do Conselho Municipal de Turismo. Um abaixo-assinado on-line propondo a medida já tem cerca de 20 mil assinaturas. Hoje, as 11 charretes puxadas por cavalos vão do Centro Equestre à cachoeira Véu da Noiva, em um percurso de cerca de 1.500 metros.
O despachante Marcelo Toledo, ativista dos direitos dos animais que criou a petição, diz que os cavalos são explorados até a exaustão e que falta fiscalização. "Frequentemente encontramos cavalos abandonados, doentes", diz.
O vereador Luciano Honório (Solidaridade) propôs um projeto de lei para proibir a circulação das charretes nas áreas urbanas. Ele diz que a prefeitura não tem estrutura para fiscalizar a atividade e impedir os maus-tratos, apesar de existir lei municipal que regulamenta a atividade. "As charretes não poderiam transportar mais que quatro pessoas, mas levam até sete", disse o vereador.
Como a Comissão de Justiça da Câmara considerou o projeto inconstitucional, por não ser atribuição do Legislativo, Honório tenta convencer o prefeito Fred Guidoni (PSDB) a apresentar a proposta. Desde 2013 existe na Promotoria um inquérito civil público que apura irregularidades, maus-tratos e riscos à saúde dos cavalos.
Marta Eisenlohr, vice-presidente do Conselho Municipal de Turismo, apoia o fim das charretes. "Não há alimentação adequada, os cavalos estão fracos e magros", disse ela, que também é vice-presidente da Central de Pousadas de Campos do Jordão.
O presidente da Asstur (associação de hotéis e restaurantes), Luiz Pedro Nathan, por sua vez, critica a situação atual dos charreteiros, mas é contra o fim da atividade. Ele diz que a "questão é delicada", mas que proibir a atividade causaria o desemprego dos charreteiros e o abandono dos animais. "Eu defendo a regulamentação adequada do serviço, para que seja bom para os animais, para os charreteiros e para o turista", afirma.
Inaugurado em agosto passado para regulamentar a atividade, o Centro de Turismo Equestre é o único local na cidade que oferece aluguel de cavalos e passeios de charrete e assegura cuidados e tratamento adequado aos animais, segundo a prefeitura. Cada charreteiro tem ao menos dois cavalos, que fazem no máximo cinco passeios por dia. A construção do centro custou R$ 685 mil e foi bancada pelo Estado.
"Todos os animais são avaliados por veterinário e estão aptos para trabalhar", disse Elaine de Marco, presidente da Associação dos Cavaleiros.
Os charreteiros reclamam, no entanto, que a nova localização, a 500 metros do bairro turístico Capivari, afugentou os turistas. No sábado (5), a reportagem esteve no local das 12h às 15h e não havia nenhum cliente.
DISCUSSÃO GLOBAL
A discussão sobre a exploração de cavalos no turismo urbano é polêmica em várias cidades e até no exterior.
Após dois anos de embates com defensores dos animais, os charreteiros da Ilha de Paquetá, no Rio, vão deixar de oferecer passeios.
Em Poços de Caldas (MG), a morte de um cavalo por fadiga gerou pedido para abolir as charretes das ruas há cerca de dois anos. A atividade resistiu, mas os animais receberam chips, que identificam os donos.
Nos Estados Unidos, os passeios das carruagens por Nova York são alvo do prefeito Bill De Blasio, que tenta restringi-los ao Central Park a partir de junho.
UGT - União Geral dos Trabalhadores