01/03/2016
Oito meses após a retomada dos embarques de carne bovina à China, o país asiático assumiu a posição de principal destino das exportações brasileiras do produto.
De junho de 2015, quando os embarques foram retomados, a janeiro deste ano, os chineses compraram US$ 517 milhões em carne bovina do Brasil, o equivalente a 16% da receita proveniente com as exportações do produto, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento.
Nesse mesmo período, o Egito ocupou a segunda posição entre os importadores, em receita, seguido por Hong Kong, região que pertence à China e que nos últimos anos foi a porta de entrada da carne brasileira no continente.
Considerando as compras de Hong Kong, que chegaram a US$ 389 milhões, os chineses importaram US$ 906 milhões em carne bovina do Brasil nos últimos oito meses, ou 28% do total exportado.
A velocidade do crescimento das exportações para a China não surpreende, considerando a dimensão do mercado. Mas, logo que o país asiático autorizou a retomada das importações, analistas apostavam em uma lenta recuperação –os negócios estavam suspensos desde 2012, devido a um caso atípico do mal da vaca louca no Paraná. Na época, a China representava cerca de 1% dos embarques de carne brasileira.
"Não imaginávamos que a China ocuparia essa posição de destaque tão rapidamente. Normalmente, existe uma lacuna entre a abertura do mercado e o aumento dos embarques", diz Alex Lopes, da Scot Consultoria.
As negociações sobre os procedimentos adotados entre as agências de inspeção sanitária e a habilitação de frigoríficos para a exportação costumam demorar. Neste caso, o importador foi ágil. Atualmente, 16 frigoríficos podem exportar para China.
EFEITO PETRÓLEO
Mas a principal explicação para a rápida ascensão da China na balança de carne brasileira é a crise em tradicionais compradores do produto, como a Rússia e a Venezuela, e o embargo da Arábia Saudita, que chegou ao fim apenas em novembro.
"A forte queda no preço do petróleo foi um dos fatores determinantes para essa escalada da China", diz Lopes.
Com economias altamente dependentes do óleo, esses importadores ficaram mais pobres e frearam as compras.
No ano passado, as exportações caíram 57% para a Rússia e 41% para a Venezuela, em comparação com 2014, segundo a Abiec (associação dos exportadores de carne).
Com a possibilidade de exportar diretamente para a China, as vendas para Hong Kong caíram 44% em 2015.
A região, porém, continua absorvendo um importante volume da carne brasileira, sendo o terceiro maior importador. O acordo entre Brasil e China não autoriza a exportação de miúdos e carnes com osso, que continuam entrando no país via Hong Kong.
SÓ O COMEÇO
Com uma população de 1,3 bilhão de pessoas e um consumo per capita baixo, inferior a 6 quilos por habitante ao ano, analistas acreditam que o apetite chinês só está começando. No Brasil, o consumo per capita de carne bovina varia entre 35 e 40 quilos.
"A demanda chinesa por carnes ainda tem muito a crescer, agora favorecida por um novo modelo de crescimento, mais voltado ao consumo interno", diz José Vicente Ferraz, diretor da Informa Economics FNP.
Para Antônio Camardelli, presidente da Abiec, a China se consolida como um dos principais mercados, e pode ser, inclusive, uma alternativa à Europa na exportação de cortes nobres. "Eles estão comprando todos os tipos de corte, e alguns já apresentam um bom patamar de preço."
Fonte: Folha de São Paulo
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