29/02/2016
A Justiça americana intimou o Citibank a prestar esclarecimentos diante dos indícios revelados pela investigação do FBI que apontam que o banco era usado pelo brasileiro J. Hawilla para distribuir milhões de dólares em propinas para dirigentes sul-americanos. A intimação não significa necessariamente que o banco será denunciado. Mas revela que as investigações sobre a corrupção no futebol foram ampliadas e entram em uma nova fase: a de traçar a rota do dinheiro.
Diversas instituições, como o HSBC e o Barclays, já admitiram que foram alvo de questionamentos por parte dos americanos. Outros, como o JPMorgan, foram citados no indiciamento de dirigentes, no dia 27 de maio de 2015.
Agora, porém, o Citibank admite que está sendo alvo de uma convocação oficial, a primeira de um banco desde que o caso eclodiu há nove meses. Num comunicado a investidores emitido no fim de semana, o banco aponta que a intimação ocorre por conta de “relações bancárias e transações no Citibank associados com certos indivíduos e entidades identificadas como tendo tido envolvimento com uma conduta supostamente corrupta’’.
Ao Estado, fontes próximas ao caso nos EUA indicaram que as investigações têm relação direta com os contratos da Conmebol para a Copa América. Dois pagamentos foram feitos pela conta da Traffic International no Delta National Bank & Trust Co. de Miami para o Citibank. Numa delas, em 17 de junho de 2013, US$ 5 milhões foram depositados. No dia 11 de setembro de 2013, mais US$ 1,6 milhão, de uma conta no Bank Hapoalim de Zurique para o Citibank em Nova York.
De acordo com os americanos, o uso do Citibank não se limitou a essas transferências. A empresa Datisa, que tinha a Traffic como sócia, também usou a instituição para pagar propinas. “Os pagamentos de subornos foram então transferidos de contas bancárias na Suíça para contas controladas por dirigentes da Conmebol em todo o mundo, inclusive nos EUA”, diz o documento oficial do Departamento de Justiça dos Estados Unidos.
Pela investigação americana, ao menos 11 dirigentes teriam recebido propinas especificamente da Datisa, entre eles os ex-presidentes da CBF, José Maria Marin e Ricardo Teixeira, e Marco Polo del Nero, presidente licenciado da entidade.
Segundo o relatório, “os dirigentes que pediram e/ou solicitaram propinas incluam Manuel Burga, Carlos Chavez, Luis Chiriboga, Marco Polo Del Nero, Eugenio Figueredo, Rafael Esquivel, Nicolas Leóz, Ricardo Teixeira, José Meiszner, Juan Napout e José Maria Marin’’, entre outros.
Deles, Leóz, Figueredo e Napout chegaram a presidir a Conmebol. Carlos Chavez presidiu a Federação Boliviana; Manuel Burga, a peruana; Luis Chiriboga, a equatoriana; Rafael Esquivel, a venezuelana; e o argentino José Luis Meiszner foi secretário-geral da Conmebol.
O Citibank teria ainda sido usado para pagamentos de propinas da Traffic para Jack Warner, ex-vice-presidente da Fifa, além de Jeffrey Webb, outro ex-vice da Fifa.
Reforma da Fifa. Ontem, o novo presidente da Fifa, Gianni Infantino, garantiu que hoje, em seu primeiro dia de trabalho, vai já se debruçar na reforma da entidade e em atender aos pedidos de cooperação com os EUA. Questionado se “mais dores” atingiriam a Fifa no futuro, respondeu: “Mais alegria virá”.
A urgência de Infantino em implementar reformas não ocorre por acaso. A Fifa havia sido alertada meses antes de sua eleição, ocorrida na sexta-feira, que corria o risco de ser considerada como uma “organização criminosa” pela Justiça americana caso não mudasse.
Isso implicaria que seus ativos seriam congelados e que empresas americanas – como a Coca-Cola ou Visa – estariam obrigadas a se desfazer de seus contratos com a entidade. Na prática, tal acusação encerraria as atividades da Fifa.
Infantino, portanto, assume com a meta de mostrar que a Fifa também foi uma vítima de dirigentes corruptos.
Fonte: Estadão
UGT - União Geral dos Trabalhadores