18/01/2016
Faz algum tempo que a presidente Dilma Rousseff procura, publicamente, transmitir a imagem de que não se intromete nas decisões do Banco Central sobre a taxa básica de juros, a Selic.
Amanhã e quarta, o Copom (Comitê de Política Monetária), órgão do BC que se reúne bimestralmente para arbitrar a Selic, terá o seu primeiro encontro deste ano. Há expectativa dos agentes econômicos para saber se taxa será mantida em 14,25% ou elevada em 0,25 ponto percentual.
O Brasil paga hoje um preço alto pela interferência da presidente no Banco Central em particular e na política econômica como um todo. Portanto, do ponto de vista público, é melhor mesmo Dilma se manter afastada desse debate. Mas, nos bastidores, há um desejo presidencial de que o Banco Central não suba a taxa básica de juros.
O ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, que tenta conquistar credibilidade perante os agentes econômicos, também tem tido um posição cautelosa ao falar de juros, reforçando a ideia de que agora, no segundo mandato da presidente, existe autonomia do Banco Central.
Há divisão no Banco Central. Um grupo avalia que seria preciso elevar um pouco a taxa de juros, em 0,25 ponto percentual, como forma de demonstrar rigor no combate a uma inflação que está realmenta alta.
Outra ala do Banco Central considera que a atual taxa de juros é suficientemente elevada e que nova subida só resultará em desnecessário aumento da dívida pública, porque está em curso uma recessão que produz desemprego e diminui a demanda.
O correto seria a manutenção da Selic no atual patamar, com o Banco Central deixando claro que poderá agir se a inflação de 2016 começar a ter um desenho parecido com o do ano passado, que ficou acima dos 10%.
O melhor seria o Banco Central aguardar um pouco mais, para sentir os efeitos de uma recessão que tende a baixar a inflação, ainda que, nos anos Dilma, tenha havido um excesso de tolerância com a alta dos preços. Na quarta, o Banco Central mostrará o caminho que seguirá _com votação unânime no Copom ou preferindo expor publicamente divergências.
Filme antigo
O Brasil continua em 2016 com o mesmo problema de 2015. Falta um plano fiscal de longo prazo que seja crível, que gere confiança nos agentes econômicos.
Há poucos dias, a presidente disse que o Brasil precisa realizar uma reforma da Previdência. Também afirmou que o governo faria tudo para cumprir a meta fiscal de 2016, que é de 0,5% do PIB, o Produto Interno Bruto. O ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, também afirmou em entrevista que perseguirá o cumprimento da meta fiscal do ano.
Acontece que a presidente não tomou medidas efetivas para discutir a sério uma reforma da Previdência. Parece mais uma declaração que ela sabe que o mercado gosta de ouvir, mas com uma ação inconsequente. Reforma da Previdência é um tema impopular, exige proteção aos mais pobres que começam a trabalhar mais cedo e demanda algum tipo de acordo com a oposição e reorganização da base de apoio do governo no Congresso.
Ora, o Palácio do Planalto ainda vai lutar na Câmara para enterrar um pedido de abertura de processo de impeachment. A tese de impedimento da presidente perdeu força, mas ocorrerá uma batalha nesse sentido depois do Carnaval. Logo, haverá um cenário hostil a um debate sobre reforma da Previdência.
Condicionar o cumprimento da meta fiscal à aprovação da nova CPMF é praticamente admitir que ela não será cumprida. Persiste o quadro de enorme dificuldade para votar uma medida dessa natureza no Congresso.
Portanto, continuam faltando medidas sólidas e críveis do governo para impedir que o Banco Central tenha de arcar sozinho com o combate à inflação e aumente a taxa de juros, tornando a crise atual ainda mais sacrificante do que seria necessário.
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Fonte: IG
UGT - União Geral dos Trabalhadores