08/09/2015
A "mensagem aos políticos tradicionais" de Jimmy Morales, 46, foi gravada em uma estrada de terra, cheia de barro. "Senhores políticos, falar de pobreza de suas questionadas fortunas é fácil. Eu nasci e cresci numa rua assim", dizia o candidato à Presidência da Guatemala mais bem votado no primeiro turno, realizado neste domingo (6).
"Os senhores são uns mentirosos. Vocês já governaram, seja no palácio nacional, seja no Congresso. E nenhum de vocês fez antes o que agora diz que fará", atacou, em um vídeo publicado em redes sociais dias antes do pleito.
O destinatário principal era Manuel Baldizón, candidato do conservador Liberdade Democrática Renovada (Lider), que liderou com folga a corrida, mas perdeu fôlego na reta final, com denúncias de corrupção envolvendo o seu candidato a vice.
Com 98,23% das urnas apuradas até a conclusão desta edição, Morales, da Frente de Convergência Nacional (FCN), ficou com 23,89% dos votos no primeiro turno. Correndo o risco de ficar de fora do segundo turno, em 25 de outubro, Baldizón disputava voto a voto o segundo lugar com Sandra Torres, ex-primeira dama candidata pela social-democrata União Nacional da Esperança (UNE). Ela tinha 19,68% dos votos, contra 19,59% de Baldizón.
DA TV AO PALANQUE
Comediante popular e empresário da própria carreira, Morales juntou dinheiro por quase duas décadas aparecendo aos domingos à noite na televisão. Há quatro anos, aventurou-se, pela primeira vez, no mundo da política. Disputou a prefeitura de uma cidade pequena próxima à Cidade da Guatemala, mas foi derrotado.
Neste ano, lançou-se como o candidato que romperia com o status quo. Encampou bandeiras da direita com a qual hoje é associado (seu partido tem raízes militares). Evangélico, defende a pena de morte e é contra o aborto, o casamento gay e a legalização de drogas.
Sofreu acusações de assédio sexual, as quais ataca como mais uma "evidência das velhas práticas" da política tradicional.
A Guatemala tem sido sujeita a sucessivos escândalos de corrupção e ainda luta para superar os traumas da repressão militar. O discurso de tolerância zero de Morales começou a ter alguma adesão quatro meses atrás. Quando o então líder, Baldizón, passou a sofrer as consequências da denúncia contra o seu candidato a vice, a chapa começou a perder força.
Na semana passada, a poucos dias da eleição, a renúncia e prisão do presidente Otto Pérez Molina deram o empurrão final a Morales. Mesmo com o segundo turno pela frente, ele já comemora por não ser mais somente o engraçadinho da TV.
Fonte: Folha de S.Paulo
UGT - União Geral dos Trabalhadores