05/06/2015
Evidência empírica e experiência de gestão mostram que política monetária é eficiente para atingir meta
O BC reduziu na marra a taxa Selic e, graças a isso, colheu inflação no teto da meta, apesar do controle de preços e taxa de câmbio
Que Leda Paulani enfrenta dificuldade com matemática e números é notório; já seus problemas com interpretação de texto são uma triste surpresa. Ela me acusa de não ter compreendido o "substantivo" de sua defesa da política econômica vigente até 2014, mas não conseguiu entender o ponto central da minha crítica.
Não se trata da necessidade de olhar a evolução da dívida relativamente ao PIB, embora tenhamos também que fazer isso.
Fico, porém, chocado que sua única resposta à rápida elevação dessa relação seja apontar o dedo para o que ocorreu entre 1997 e 2002 e dizer que a dívida cresceu ainda mais rapidamente.
É o equivalente filosófico da justificativa que dava à minha avó quando aprontava alguma: "Joãozinho também fez".
Vó Elvira, professora primária das antigas, não caía nessa e nem deve o leitor. Mesmo porque, ao contrário do que Leda, perdida em devaneios, afirma, houve literalmente dezenas de estudos à época discutindo precisamente a questão da sustentabilidade da dívida, muitos com conclusões pessimistas, nenhum dos quais, tenho certeza, foi chamado de "terrorismo econômico" por ela.
E, diga-se de passagem, o mercado reagia muito mal a sinais de problemas na área fiscal, bem mais do que reage hoje, aliás, como fica claro pela evolução das medidas de risco soberano então.
AUMENTO E TAMANHO
Também me espanta sua incapacidade para distinguir o aumento do deficit fiscal (o que economistas denominam de "movimentos na margem") de seu tamanho absoluto. No ano passado, o deficit do setor público dobrou, saltando de 3,1% para 6,2% do PIB. Do aumento de 3,1% do PIB, cerca de ¾ (2,4% do PIB) se devem à piora do saldo primário, ficando o restante sob influência do aumento da conta de juros.
Aliás, quem segue esses números de perto sabe também que um bom pedaço desse aumento reflete, na verdade, o prejuízo com a venda de dólares no mercado futuro, mecanismo que o BC usou justamente para tentar conter a inflação em lugar de aumentar a taxa de juros.
Medida a preços de hoje, a despesa de juros aumentou em R$ 49 bilhões no ano passado; desses, R$ 17 bilhões (1/3 do aumento) referem-se às perdas no mercado de câmbio.
ESPANTO
Na escala do espanto, porém, a campeã é a expressão: "Não venham me dizer (...) que a taxa de juros estratosférica [outro adjetivo!] é necessária para conter a inflação".
Ao contrário do que Leda parece acreditar, essa não é uma crença a priori; há uma montanha de evidência empírica que indica ser esse exatamente o caso. Não sou eu quem afirma isso, nem "meus pares", mas os dados e a experiência de gestão de política monetária desde o início do regime de metas para a inflação no Brasil.
Por exemplo, quem não passou os últimos quatro anos sonhando há de ter notado que o BC reduziu na marra a taxa Selic e, graças a isso, coadjuvado por um aumento sem precedente do gasto primário, colheu inflação no teto da meta, apesar do controle de preços e da taxa de câmbio.
O substantivo nessa história toda é simples: até o final do ano passado o governo fez o que Leda e "seus pares" recomendavam (tanto que assinaram manifestos de apoio à política econômica); o resultado foi um fracasso retumbante.
Leda pode sonhar o que quiser; só não pode exigir que partilhemos o pesadelo dos últimos quatro anos.
Fonte: Folha de S. Paulo
UGT - União Geral dos Trabalhadores