05/06/2015
O Brasil propôs à Argentina avaliar uma oferta mínima, já acordada entre os demais parceiros do Mercosul, para destravar a arrastada negociação de abertura de mercados com a União Europeia.
O assunto, que causa mal-estar político, está sendo tratado pelas presidentes dos dois países, e o prazo para haver acordo é quinta-feira (11).
Neste dia, representantes do Brasil vão se reunir com negociadores da UE para tentar fixar um cronograma entre os dois blocos.
Apesar do desejo de ampliar exportações para o mercado europeu, o Palácio do Planalto descarta, por ora, apresentar proposta individual à UE. Auxiliares presidenciais com acesso às negociações afirmam que nenhum gesto que exclua a Argentina será feito antes de outubro, quando o país vizinho elege um novo presidente.
Isso não significa, porém, que o governo não possa adotar esse caminho no futuro.
A negociação com a UE se arrasta desde 2010, mas ganhou ares de urgência com o acordo do bloco com os EUA, previsto para 2016.
A pressão vem dos demais sócios do Mercosul (Uruguai e Paraguai) e da UE -que, a Folha apurou, avalia haver falta de vontade política do outro lado da mesa de negociação e não espera avanços concretos no médio prazo.
A cobrança parte, também, de empresários brasileiros, que veem em tratados comerciais um impulso à economia.
O país vizinho resiste à maior abertura de mercado a produtos europeus por temor de fragilizar uma vitrine política de Cristina Kirchner: a proteção da indústria local.
FIRMEZA
A orientação dos negociadores brasileiros é tratar a Argentina com "cuidado, paciência, mas com firmeza".
"Não vamos ser débeis, mas também não vamos arriscar tudo. A relação com a Argentina é mais importante do que o acordo Mercosul e União Europeia", disse à Folha um negociador.
Além do comércio, os países são parceiros em assuntos que vão de cultura a educação.
Para Brasil, Paraguai e Uruguai, porém, assumir negociações "monolíticas" do Mercosul em um cenário que hoje inclui Bolívia e Venezuela no bloco é inviável. Daí a proposta de negociação em "duas velocidades" com a UE, apresentada pela presidente Dilma Rousseff há duas semanas em reunião com o uruguaio Tabaré Vázquez.
A Argentina, porém, rejeita negociar após os parceiros e criou um impasse político.
Para justificar a demora, o Brasil aponta para os europeus.
Auxiliares da presidente Dilma afirmam que a UE também teria dificuldade em apresentar uma proposta comum, já que a crise econômica alimentou o sentimento anti-União Europeia dentro do próprio bloco e dificultou a abertura do mercado agrícola do continente para produtos da América Latina.
A resistência à abertura a produtos industrializados na América do Sul e a produtos agrícolas na Europa é a gênese de outros impasses comerciais, como a Rodada Doha.
LONGO E DIFÍCIL
O Brasil fez a proposta à Argentina na última sexta (29), em uma reunião com os ministros Mauro Vieira (Relações Exteriores) e Armando Monteiro (Desenvolvimento) em Buenos Aires, que durou mais de três horas.
O diálogo foi chamado de "longo e difícil" por um participante brasileiro, e a resposta recebida é que caberá à presidente Cristina Kirchner, que deixa o cargo em dezembro, a palavra final.
Fonte: UOL
UGT - União Geral dos Trabalhadores